quinta-feira, 28 de novembro de 2013

digitado em 28.11.2013

PALAVRAS


Soltas...
Ao vento
Catavento
Leva o vento
Se dispersam
Diluem
Conduzem
Seduzem
Induzem...
Palavras pensadas
Repensadas
Bem faladas
Benditas
Malditas
Não ditas
Aflitas
Desditas...
Meias palavras
Pausadas
Simples
Rebuscadas
Mal ou bem intecionadas
Tantas palavras
Silenciadas...









































































sábado, 23 de novembro de 2013

zelia 23 de novembro

O OUTRO

Olho o outro e me vejo
Nos seus olhos me espelho
E no espellho eu encontro
As mesmas buscas e sonhos
Somos partes um do outro
Vivemos os mesmos tempos
As dores são tão iguais
As buscas se entrelaçam
No mesmo eterno buscar...
Nossas almas são eternas
Nossos gostos são iguais
Sal, açucar, frio, quente
Temperando tão sómente
Eu aqui...ele acolá
Ah... meu ego é tão igual
Discrepâncias que carrego
Enganos nos meus egos
Nada...tudo...tudo igual...
Vejo o outro, vejo a mim
E assim, olhando o outro,
Me espêlho, me percebo
Ele sou eu... eu sou o outro...



               


UMA FLOR

Uma flor murchou, eu vi...
Era branca, ficou cinza
Vestiu luto...chorou
Por outras flores perdidas
Murchas, mortas, desditas...
Olhava em volta amiúde
Quando ainda estava viva
Tocava com seu perfume
 Outras flores, outras vidas
Se via um tanto sem graça
Pensava não ter valia
Ah, flor.... porque murchaste
Se ainda tinhas vida...
Tinhas botões ao lado
Tinhas sim, tanta valia...
Tira o luto... veste o rosa
Volta, ainda há tempo...
Venha... volte pra vida...






MUNDOS

Ela surgiu toda meiga
Seu carisma transbordando
Tão mimosa, tanto dengo
Menina...flor tão cheirosa...
Tinha ares de rainha
Bela, qual flor se abrindo
Era doce seu caminho
Viu o mundo passando
Por ela, em desalinho
Sentiu um desejo forte
Mudar aquele caminho
Colocar flores, amores
Em qualquer lugar que fosse
Mas o mundo passou adiante
Deixando-a só a pensar
Na vida... busca incessante
Parecia tão distante
O mundo que a viu passar...
Resolveu seguir em frente
Buscando mundos melhores
E o mundo cativante
Depressa a trouxe de volta...
Confusão de tantos mundos
Passando por todos nós
Uns ficam vendo passar
Outros passam, sonham alto...
Mas a menina ficou
E encantada, amou... passou...





CABOCLA

Na beira do caminho
Tem um pé de jatobá
Tem jabuticaba doce
Tem goiaba e araçá
As mangas estão caindo
Amarelinhas que só
Forram doces os caminhos
Cheiram forte...ah, que dó...
Da mulher escorregando
Na casca lisa da manga
Se levanta, leva embora
Amora, jaca, pitanga
Misturadas num balaio
Fartura... olha de soslaio
Leva toda a carga embora
Pega um bocado de amoras
Diz consigo, pensa alto
Vou oferecer pro santo
Tirar todo esse quebranto
Que me faz abrir a boca
Sou cabocla, sou daqui
Sou da roça, da enxada
Pego a estrada, vou pra ali...
Tenho todos os caminhos
Cumpro todos... o que importa
É viver o que comporta
Gosto da vida assim...
Sou caipira... sou da roça....





UM CÂNTICO

Entoei um canto triste
Um canto que não existe
Saiu-me assim sem porque
Cantei o cantar sem quê
Trouxe raso, vi no fundo
Um mundo que não é meu
No canto entoado triste
Por que cantar triste canto
Se tão belo é meu viver...
Mas o cantar não se ia
Eu pensava o que seria
Aquele triste gemido...
Vasculhei os horizontes
Fui buscar atrás os montes
Onde estaria escondido
Meu hoje alegre cantar
Encontrei-o lá quietinho
Observando mansinho
Procurando seu lugar
Espreitando meu cântico
Triste... já se perdendo
Sem ter eco pra ficar
E então entrou em mim
Tão jubiloso cantar
Não o deixei ir embora
Se voltou...tem que ficar....






MEU FILME

Gosto de ver... assistir
Meu filme em retrospecto
Busco longe... é tão antigo
Assisto, insisto comigo
Ver cenas que não me agradam
Persisto... olho sem mêdo
Meu desapêgo é maior
Meu filme não faz sofrer
Não mais... então observo
Relevo certas passagens
Outras olho, mas não paro
Pra sentir antigas dores
Me atenho nos amores
Que a vida me legou
Vejo o filme...
Vem-me o pranto
As lágrimas lavam a dor
Enxugo o rosto   
Prossigo...
Assisto em câmara lenta
Meu filme...
Não mais  me  atormenta
Tem um enredo tão belo...
O filme que eu carrego...













































































quinta-feira, 21 de novembro de 2013

21 de novembro

ESTRELA CADENTE

Vejo uma estrela cadente
Meu desejo é pega-la
Traze-la aqui, e com ela
Saciar tantos desejos
Não só os meus
Mas todos os ensejos
Do mundo...
Vejo... festejo sua caída
São segundos....
Tão rápido, qual fosse
Um piscar de olhos
Um acender de luz
Reluz...               
É a minha estrela
Dela me sinto dona
Caída, não me abandona
Meus desejos estão lá
Coloquei em todos eles
Os melhores pensamentos
Num piscar...
Oxalá, estrela minha...
Você traga a harmonia
O amor, fraternidade
Pra dentro de cada um...
Abra espaço...afrouxe o laço
Acenda a luz, aperte o abraço
Na alma, no coração
Reluzindo, reacendendo
A chama que já existe
Só precisa reavivar
Reacender...fazer brilhar....




O BASTARDO

Corria daqui... dali....
Ligeirinho, tinha pressa
Carriola carregada
Tão criança... pequenino
Burro de cargas da família
Foi pego aos tres aninhos
Ficou órfão muito cedo
E o casal que o adotou
O fazia de brinquedo
Quanta judiação... surras....
Tundas... e nada de dizer não
Era um menino bom
Mas estranho...
Feinho... desarranjado
Estava sempre suado
Sujo, desdentado
Mas sorria, sorria sempre
Sorriso desajeitado
Parecia pedir desculpas
Sem ter culpa...
Sua imagem não me sai
Eu também era criança...
Minha mãe o aconselhava
Que tivesse paciência
Ele dizia... vou ser padre
Um dia, vou rezar missa
Comia aquilo que davam
E as roupas se eram grandes
Ou se eram apertadas
Usava...estava bom....
Sabia agradecer
Vivia de migalhas
Os tempos eram outros
Quase ninguém se importava
Pelas  crianças sofrendo
Era assim...crianças...
Só um detalhe
Elas não tinham  vez
E assim se fez com ele...
Soube muito tempo depois
Que tentou ser sacerdote
Mas, por ser afeminado
Lá também foi rejeitado....


MINHA MULHER


Minha mulher tem anseios
Medos, fobias, trejeitos
Esgares, olhares feitos
Imperfeitos e bondosos
Tem olhares curiosos
Cheios de raiva
Em brasa...dispersos...
Compenetrados...
Minha mulher é manhosa
Tão bondosa....
Mas tem polvora nas ventas
Esquenta, arde, se acovarda
Retarda pra resolver
Quer sempre fazer valer...
Se entristece por pouco
Se alegra por muito menos
Minha mulher é pequena
Mas pode ter também
O tamanho que quizer
É intensa... terna... eterna....
É mulher....




TARDES

Vejo as tardes chegando
Tão mansas, prenunciando
A noite das estrelas
Companheiras dos meus sonhos
Chega a tarde, me invade
A vontade do aconchego
O desejo de esperar
A chegada de quem vem
Mais um dia que se vai...
Os cheiros doces rescendem
Dos lares, preparando
Refeições feito altares
Sagradas, consumidas
Em comunhão... orações...
União entre as pessoas
São bênçãos que a tarde traz
Entardecer... vejo a tarde
Louvando por mais um dia
Louvada seja a noite
Chegando.... vindo...
Fazendo preces...
Entoando hinos...



EU VI

Uma criança sorrindo
Um cãozinho saltitando
Um pássaro livre
Mais um dia chegando
Uma reza bem rezada
Uma fada encantada
Me dizendo para crer
No amor, no amanhecer...
Uma janela aberta
Uma alma liberta
Muitas portas se abrindo
Vi você entrar sorrindo
Pra eu amar, pra ficar
Sempre, eternamente
Ao meu lado, sem passado
Só o presente
Que me foi dado
Entregue...
Num envólucro simples
Sem nenhuma ostentação
Pensei sonhar
Não era sonho
Era você... um anjo...
Aceitei sem nem pensar
Pedi a Deus que o guardasse
Pra mim...pra vida toda
E Ele me ouviu
Eu sorri, você sorriu
Me acalentou, me amou
Me amparou
Sob o sol
Sob a chuva
Á luz da lua
Me fez sua....       

LUA


Surge a lua...
Nua... despojada
Só ela... prateada
Donzela sacrossanta
Ilumina... iluminada
Fantasio nela
Um manto de cristal
À sua destra,
Um castiçal de prata
Seu manto cresce
E arrastando traz consigo
Um brilho
Nunca visto igual...
Me visto dela
Sou senhora....
Sou jovem,
Tal qual a aurora
Meu rosto
Se deixa enfeitar ...
Dela, eu me visto
Seu festiço me envolve
Em teia argenta...
Toca em mim
Eu levito
Não é sonho...
A lua ...
Tudo é capaz....





AZEDUME

Hoje me peguei
No azedume...
Não é praxe
Relaxe..
Vou do rés ao cume
Me vejo em ré
Experimento uma primeira
Não vai...
Um passo a mais
É bom pensar
Parar... rever
Resolve ler?
Escrevo...
Dá medo o que me sai...
Deixar no papel,
Jamais...
Um soluço...
Engulo
Choro
Imploro
Paciência...
Melhor lá fora
Arejar...
Converso com quem passa
O choro vai
O azedume sai
Meio na raça...
Acho até graça...





LOUVAR
Ao louvar,
me coloco em prece
genuflexa...
Me posto
em posição de lotus
ou mesmo ereta
e em surdina
canto os meus hinos
Em louvores....
agradeço... ofereço...
Meu sêr engrandece
me pede pra ser melhor...
Urge melhorar...
Devolvo em prece
gratidão, amor,
seja o que for...
Vejo nisso o meu louvor.
É assim minha oração...
Meu louvor é minha prece.
Minha prece é gratidão....





NATAL....

Montei a minha árvore
Antegozando o natal
Tantos penduricalhos
Mistureba... detalhes
Sim, o natal é brega
Mas é lindo. Divino
Me enleva, relevo
Fico meis leve...
Amorosa, sonora...
Preparo, reparo
Cada detalhe...
Um anjo, um alce
Um sino, um laço
Uma estrela
Um presépio...
Anexo, Papai Noel
Tanta luz...
Nascimento de Jesus
No bercinho se destaca
Não é mais tão pobrezinho
Afofo o bercinho lindo
Ilumino... olho... sorrio...
Jesus... seja bem vindo...





NOSSOS MUNDOS

Olho o meu mundo
O acho quase perfeito
Olho o mundo do outro
Julgo... vejo os defeitos
Mas... será que o outro
Olhando o seu próprio mundo
O vê pelos mesmos prismas?
Olho á minha volta
Não me anima
Tanta coisa me revolta
Me engulha, embrulha               
Meu ventre se enola
Me consolo como posso
Adoto a filosofia
Um dia de cada vez
Sei que não posso ver
Pelo mundo do outro
O meu mundo tão restrito
Paro às vezes pra olhar
O seu mundo, que é o meu...
O mesmo... separar como,
O meu mundo do seu...
Difícil olhar o mundo
Sem estragar o meu...



                                                    FLUIR

É assim... está em mim
Tudo... desde os primórdios
Está em nós bem guardado
O desejável, o indesejado
O bom e o ruim
Deixo fluir...
Quando me vem,
Vou além
Fantasio também
Fecho os olhos
Tenho pronto
Saem frases
Mais um conto
Verdades, rimas, detalhes...
 Deixo que saiam
Ás vezes me incomodo
Com aquilo que me vem
Coloco aqui... não coloco...
Na dúvida, que mal tem...
Viro espectadora
A autora ficou lá atrás
Assim é mais fácil
Colocar o que me sai
Limpo a alma
Vem a calma
Deixo fluir...
Sair... limpar
É assim... É só deixar...




UM ALCE

Tem um alce bem aqui
Pequenino, ah... que lindo...
Canta uma musiquinha
Em inglês... que gracinha...
É um som que me comove
Choro... num misto de saudade
E alegria...quase imploro
Canta, alce pequenino
Vá buscar os meus meninos
Lá no Texas, em Austin...
Eles me presentearam
Compraram em um bazar
Daqueles que têm por lá...
Saíram cedo, os dois
Felipe e Gabriel...
Voltaram tão felizes
Vovó, olha só... é pra você...
E ligaram a musiquinha
Eram dois... mamãe e filho
Mas Larinha quiz um deles
Emprestado, ela me disse
Eu a deixei levar, faz um ano
Sei lá...será que terei coragem
De lembrar minha netinha?
Vou ver... não sei...afinal
Justo agora que é natal...
Mas mamãe alce está aqui
No lugar onde eu mais fico
Olho pra ela... me comunico
Me transporto até meus netos
Quando estou lá, vamos juntos
Passear nos arredores
Procurar... e encontramos
Vez em quando, parentes do alce
Me comove... tão mansinhos
Pastam tranquilos, são tantos...
Lá são chamados de "deer"
Eu, os chamo de veadinhos
Mas meus netos me entendem
A gente ri, corre, brinca
Ah... que saudades de vocês...
Gabriel e Felipinho
Obrigada pelo presente...
Feliz natal, meus netinhos...



O OVEIRO

Elias comprava ovos
Pelos sitios e fazendas
Fazia trocas... levava
Na carroça aparelhada
De um tudo....
Elias era esperado
Pelas mulheres, crianças
Os homens também esperavam
Ia lotada a carroça
Pelas roças, pelas casas
Tinha sempre o dia certo
E o horário respeitado
Era quase uma festa
Elias chegava, se abancava...
A carroça rodeada
Gente chegando, vendo
Descobrindo novidades
Um corte de vestido
Brim pra calça de riscado
Velas pros finados
Panelas, canecos, bacias
Que alegria...brincos tão lindos
Pareciam  de cristal
Rendas, aviamentos
Material escolar...
Um cristo crucificado
Momento tão aguardado...
E as pessoas chegando...
Com ovos, frangos, perus
Pra trocar, fazer negócio
Eu então, era vizinha
Do oveiro, na cidade
Comprava dele coisinhas
Também trocava com ele
Por frangos, ovos, galinhas
As vassouras fabricadas
Pelo meu saudoso pai
Era muito bom aquilo
Pureza... leveza...
Grandeza na vida simples...
Elias, nosso oveiro...
De você sinto saudades
Até um dia, querido....
Quem sabe.....







O BUCHEIRO

Passava buzinando
Todos conheciam
O som da buzina
Chamando, convocando
As tão atarefadas senhoras...
Donas de casa corriam
Era preciso ir depressa
O bucheiro tinha pressa...
E se as mães não ouviam
As crianças avisavam
E a carroça bem fechada
Brecava...o dono descia
Vendia bucho de vaca
Fígado, rim, fraldinha
Coração, lingua... que mais...
Acho que era isso
Chamava de miúdos
E saiam mais baratos
Que as carnes nos açougues                               
Era assim que os mais pbres
Podiam comer  melhor
Minha mãe comprava pouco
Já que pra nós
Nem sempre sobrava uns trocos
Coisa de louco, aqueles tempos
Difíceis... mas me lembro
Com uma certa ternura
Que alegria eu ficava
Quando o bucheiro passando
Via minha mãe correndo
Com um prato e uns trocados...
Eu corria junto
Ah... que mêdo
De perder o tal bucheiro...





LUA