segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

30.12.2013


VOAR

A chuva passou
O vento acalmou
A água levou
Qualquer pensamento
Levou sofrimentos
Arrancou de dentro
Aquilo que ardia
Levou pra bem longe
A dor que aturdia
A mágoa passou
A  missa acabou
O céu nuviou
Com nuvens tão claras
O sol me chegou
A estrada se abriu
Pra mim, em braçadas...
Me senti amada
Vi anjos no céu
Vi Papai Noel
Vi ninhos de cobras
Nem mêdo eu tive...
Vi coisas de sobra
Sobrou tanta coisa
Sobrou o melhor
Segui, fui adiante
Voei bem rasante
Subi mais um pouco
Ascendi, me vi livre
E vi que na vida
Voar é possível...


VENTANIA

Quase noite, eu corria
Me perdi na hora... droga...
Que mêdo, ave Maria
Me socorre, me segura
Na poeira, na canseira
Teimosia...quem mandou
Teimar em vender o resto
Daquilo que me sobrou
Quem mandou não ser esperta...
Pavor na estrada deserta
Enfrentando ventania
Correria, chuvarada
Trovões, raios, enxurrada
Corre, menina tonta
Quem mandou vc ser sonsa...
Não viu que o céu carregava
De nuvens pretas, pesadas
Prenunciando vendaval?
Chora agora, se apavora
Larga o cesto nessa estrada
Que jeito...largar não posso
Amanhã vem o remorso
Do cesto com coisas dentro
Não...não posso deixar o cesto
Tem coisas pro nosso almoço
E pro café da manhã...
Molhou tudo... que sufoco
Mas acho que ainda servem
Tem café, lata de óleo
Açucar e macarrão
Feijão, não....meu pai colheu
Ajudei... debulhei vagens
O arroz, também colheu
Carreguei feixes e feixes
Ajudei juntar os grãos
Que caiam na batida
Já viram bater arroz ?
Naquele tempo era assim...
Bate forte ele no chão
Caem grãos, sobram as socas
Põe em sacas, e depois
Leva pro benefício
Na máquina da cidade
Que limpam...tiram as cascas
E sobra o arroz branquinho...
Pronto...só cosinhar
Arroz novo, se bobear
Vira papa, pouca água
Precisa pra dar o ponto
Ao contrário do feijão
Quando novo, é tão bom...
Velho, cria carunchos
Demora pra cosinhar
As vezes nem presta mais...
Vixi...não existem
As panelas de pressão...
Corre, corre, menina boba
Fique esperta doutra vez
Quando a tarde sai da escola
Leva pra casa as sobras
Daquilo que não vendeu...
Se livra da escuridão
Se aquieta, fica alerta
A ventania passou
A noite chegou
O cesto salvou
Os livros, cadernos...
Será que molhou?
Amanhã tudo seca
Recomeça....êta vida...
Fica esperta.....







ENXURRADA

Que pena da Filomena
Perdeu marido na enxente
Água corrente levou
Enxurrada de dilúvio
Encontraram bem depois
O pobre enroscado em galhos
Virou entulho...ah, pecado...
E ele tanto trabalhou...
Bem agora que o coitado
Ia descansar um pouco
Do sufoco dessa vida
Nem bem se aposentou...
Ai, meu Deus, eu não devia

Ter pedido pra ele ir
Buscar pão na padaria
Naquele tempo tão feio
Prenunciando tempestade
Mesmo que na verdade
Gostasse tanto de pão
Pra comer junto com  sopa...
Ela estava  tão quentinha...
Preparada...esperando
Por ele...coitadinho...
Ah...que triste...que saudade....
Não aguento não, comadre
Essa dura solidão...
Meus filhos vêm toda hora   
Pra me ver... me perguntar
Do que é que eu preciso
Aí choro feito doida
Me debruço, me debulho
Não seguro tanta dor
Era tanto nosso amor...
Eles vêm, me abraçam forte
Mas a morte me levou
O bem tão precioso
Que a vida me legou...
Todos esses anos juntos
Pra depois virar defunto
Assim... sem mais....
Numa tão besta enxurrada...
Estranha demais essa vida...
Eta, vida danada.....




























domingo, 29 de dezembro de 2013

ultimo domingo 2013


POESIA

Poesia é tudo junto
Os assuntos misturados
Misturando o presente,
O futuro e o passado...
Na poesia tudo cabe
O pecador, o santo, o padre
O amor e o desamor
E a fofoca da comadre...
Cabe a freira e a prostituta
E que diferença faz...
Cabem as lutas... condutas
Cabe a guerra mesmo insana
Cabe a saga desumana
Cabe a paz, cabe a criança
Cabe tanto a esperança
Quanto cabe o desespero
Cabe o amor primeiro
Cabe o rosto, todo o corpo
A beleza, o feio, o roto...
O jovem velho... o velho moço
Cabe o choro, o riso, o pranto
E o sacrário sacrossanto
Cabe o céu, cabe o inferno
Também cabe o amor fraterno
O mendigo, o pobre, o rico
O vento, o sol, a chuva
E o lamento da viuva
Cabe a virgem em desalento
E a vontade de encontrar
De ser desvirginada
Noite adentro ou alvorada
Cabe o tempo...
Cabe a alma e os talentos
O corpo quente... o corpo frio
Cabem cobras e lagartos
Fatos e invenções
Cabem anjos e demonios
Cabem tantos corações
Tudo cabe na poesia
Cabem as noites e os dias
Cabem glorias e louvores
Sabores e dissabores
Nela, cabemos nós
Cabe o brado, nossa voz
Nela cabe o que me acalma
Na poesia, entrego a alma.....




















                                                   




LUA


Surge a lua...
Nua... despojada
Só ela... prateada
Donzela sacrossanta
Ilumina... iluminada
Fantasio nela
Um manto de cristal
À sua destra,
Um castiçal de prata
Seu manto cresce
E arrastando, traz consigo
Um brilho
Nunca visto igual...
Me visto dela
Sou senhora....
Sou jovem
Tal qual aurora...
Meu rosto
Se deixa enfeitar ...
Dela, eu me visto
Seu festiço me envolve
Em teia argenta...
Toca em mim
Eu levito
Não é sonho...
É real...me transporto
Minha lua é de mim...
Fecho os olhos
Alcanço...abraço...
Minha lua é assim....
Se despe, ousa, acontece
Não tem segredos pra mim
Lua...óh lua nua...
Minha amiga... veste o véu
Me abraça, me devassa
Me leva ao céu...






POESIA

Poesia é tudo junto
Os assuntos misturados
Misturando o presente,
O futuro e o passado...
Nunca a pequenês...
Na poesia tudo cabe
Cabe o amor e o desamor
O pecador, o santo, o padre
Cabe a freira e a prostituta
E que diferença faz...
Cabem as lutas... condutas
Cabe a guerra mesmo insana....
Cabe a saga desumana
Cabe a paz, cabe a criança
Cabe tanto a esperança
Quanto cabe o desespero...
Cabe o amor primeiro
Cabe o rosto, todo o corpo
A beleza, o feio, o roto...
O jovem velho... o velho moço
Cabe o choro, o riso, o pranto
E o sacrário sacrossanto
 Cabe o céu, cabe o inferno
Cabe o amor fraterno















                                                   

sábado, 28 de dezembro de 2013

salvacao de 28 de dezembro

CIRANDA CIRANDINHA

Tanta criança na rua
Solta, livre, em algazarra
Toda noite, era de praxe
Criançada reunida
Brincadeiras tão saudáveis...
Eu sempre estava lá
E na roda me esbaldava
Com Senhora dona Sancha
Coberta em ouro e prata
Atirei o pau no gato
Tinha pena do gatinho
Machucado, escorraçado
Cirandava, declamava   
Batatinha quando nasce
Ficava no meio da roda
E me sentia o máximo
Pequenina era eu
Pequeninos sonhos meus...
Quais sonhos sonhava eu?...
Rodava, ria, chorava se caia
Chorona... chora, menina, me diziam
Os grandes...pois crianças me entendiam
Me cercavam, me chamavam           
Não chora ...vem pra roda
Vamos todos cirandar
As cantigas eu sabia
Se essa rua fosse minha
O anel que tu me destes
O amor que tu me tinhas
Não...não era pouco
Nem tampouco se acabou...
Brincava de amarelinha
Céu, inferno, pular corda
Passa anel, esconde - esconde
Não via passar o tempo
Mas quando a hora soava
Bastava só uma chamada
Dormia com dor nas pernas
Quem mandou ser avoada...
Sonhava, mistura ingrata
Pesadelos... sonhos bons
Confusão ... tudo girava
Criançada em profusão
E tudo recomeçava...
Nessa rua onde eu vivia
Poucas horas pra brincar
Mas eu sempre aproveitava
Ah, meu Deus... como era bom......
                   





VOLTANDO DA ESCOLA

A estrada era deserta
Tranquila, estreita, incerta
Curta nas curvas e nas retas
Galhos cobriam cercas
As ramagens balançavam
Parecendo, quando lembro
Com fantasmas desgrenhados
Redemoinhos formavam
Na terra solta, vermelha,
Poeira de arder os olhos
Ventanias, quando vinham
Na baixada assobiavam
Um barulho que assombrava
E a meninada gritava, ria
Gargalhava... que doideira
Espantando o gado manso
Abrindo qualquer porteira
Traquinagens, pouco siso

Voltando á tarde da escola
Molecada sem juízo
Jogava pedras nas cobras
Procurava macaúbas
Trepava o jatobazeiro
Brigando por jatobás
Eta fruta mais sem graça...
Fedorenta, disputada a tapas
Que fazer... outra não há...
Peguei oito, Zé Maria
Vou trocar com guaraná
Na classe, com meu colega
Ah... eu também quero trocar
Macaúbas, tenho vinte
Amanhã vou me esbaldar
Troco todas as que tenho
Por um pão com mortadela
E um copo com guaraná...
E você... pegou o que?
Pouco, não vai dar
Junta aquí... trocamos juntos
Negócio não faltará
Tanta gente interessada
Em macaúbas roubadas
E também em jatobás
Tem menino empanturrado
De lanche com mortadela
E de beber guaraná....

( Fiz muito esse tipo de negócio...)

BENDITO É O FRUTO

Bendito seja o seu ventre
Guardando o fruto da vida
Sustentando, alimentando
Nove meses de magia...
Bendito ventre que o fruto
Cresce sugando a fonte
Gerando do mesmo sangue
O fruto que gera a vida
Bendito fruto crescendo
Expandindo, se formando
No ventre que aconchega
O fruto do seu amor...
Bendito ser carregando
O fruto no próprio ventre
Mãe....bendito é o fruto
Da sua própria semente
Bendito seja o fruto
E a alma que o sustenta
E bendito seja o útero
Habitat do seu rebento
Bendito fruto do ventre
Eclodindo para a vida
Nascendo, olhando o mundo
Reconhecendo na alma
O ser do qual ele vem
Bendito fruto é voce
Bendito fruto sou eu
Frutos da mesma fonte
Da árvore onde nasceu
Benditos frutos de Deus...

VI VOCÊ

Vi você... vi seu sofrer
Soluçava a dor sentida
Não chre, minha querida...
Tudo se acerta, vai ver...
Vi você em longo pranto
Vi você em desencanto
Da vida desencantada
Que dor essa, que dói tanto...
Vi você desesperada
Querendo terminar tudo
Sem nenhuma perspectiva
Alheia... longe do mundo
Vi você buscando longe
Tão distante, errando os passos
A você eu enlacei
Envolvi em forte abraço...
Vi você voltando á vida
Tateando...devagar...
Acordando... descobrindo
Reciclando o seu melhor
Vi você se levantando
Se refazendo das cinzas
Se alegrando pouco a pouco
Curando suas feridas...
Vi voc6e forte qual cedro
Consolando a dor alheia
Tão feliz, tão encantada
Gostando tanto da vida...
Vi você me consolando
Me enlaçando em forte laço
Me joguei, chorei a dor
No amor do seu abraço...
Vi você tão minha amiga
Minha irmã, minha querida
 Cumplice no meu sofrer


                   



Vi você tão despojada
Esquecida de você
Se entregando sem pensar
Curando minhas feridas...
E quando as dores me vêm
Vez ou outra me sondar
Fecho os olhos, vejo bem
Com a alma , o seu olhar
Me consolo com você
Pois sei que o seu espírito
Melhor que ninguém me vê....

(Onde quer que você esteja, vejo você, querida...)




MOÇA VIRGEM

Há tempos, bem lá atrás
Virgindade era moda
Exigida, obrigada
Cantada em verso e prosa
Porisso toda donzela
Era sempre vigiada
Casar virgem, sim, senhores....
Era coisa obrigatória
Pra mulher...o homem não
Homem virgem, se soubessem
Recebia olhares tortos
Escárnio...donzelo frouxo
Mas a mulher... Deus o livre
Seu valor estava nisso
Ah, se não fosse virgem....
Tinha falta de juizo
Descaramento, indecência
Pura senvergonhice
E se arrumasse filho...
Despencava então a casa
Era expulsa, execrada
Vergonha da sociedade
Julgada sem piedade
Sua fama não prestava
Me lembro de uma mocinha
Na cidade pequenina
Onde isso era pior
Engravidou, tão menina...
Comprovou-se desde cedo
Que era fruto de um estupro
Qual o que...não houve meios
Expulsaram-na de casa
Sem nenhuma compaixão
pobrezinha...ah, que pena...
Nem me lembro no que deu
Saiu chorando sem rumo
Outro vizinho acolheu
Seus pais nunca perdoaram
O gesto do bom vizinho
Preferiam ver a pobre
Junto com a criança
Perdidas nos seus caminhos....
               
..........................................................................

Um animalzinho “pra brincar”....

Não, não era brinquedo
Mas feito de carne e osso
Tão pequenino o bichinho
Pobre coitado... indefeso, tinha mêdo
Corria...manquitola, se escondia
Sö encontrava sossêgo algumas horas
E assim mesmo, creio eu
Curtindo as suas dores
Enquanto os seus ämiguinhos
Permaneciam na escola...
E, perguntado á mãe
Porque mancava o bichinho,
Tranquila, me respondeu:
Teve a perninha quebrada
É coisa desses meninos...
Fazem dele o que querem
Ah...eu deixo...dão sossêgo...
Não tenho tempo...nem vejo...
E o bichinho, indefeso
Ia de mão em mão
Quatro crianças, coitado...
O puxavam pelo rabo
Levava chute, pisão
Gritava, o pobrezinho
Perguntei...não teem dó?
Responderam...não temos não...
E a mãe, jovem ainda
Tida por gente fina
Quiz continuar conversa
Não consegui, senti nojo
Daquela mulher perversa
Levantei-me...fui embora....
Mas não sem antes dizer
Coitado desse cãozinho....
Ele sente a mesma dor
Que sentiriam vocês...
Por favor, não façam isso...
E um deles me respondeu...
Ah... eu nem ligo....

(Saí chorando....sinto remorso,
pois nada fiz além disso....)





UM ASSALTO DIFERENTE

Ia eu bela tardinha
Começava a escurecer...
Andando lá por Pinheiros
Belo bairro de São Paulo
Parou-me então um sujeito
Bem vestido, bem tratado
Foi logo dizendo baixo
Moça, você tem horas?
Parei e o olhei de perto
Com simpatia, sorri
Achei bom o termo moça
Com o qual me abordou
E respondi amigável
Me desculpe, mas não tenho...
E êle, sem se abalar
Me falou de sopetão...
Mas grana, você tem
Me passa toda, então...
Eu respondi, tenho pouca
Mas lhe dou a que tiver
Ele me fez mensão
Ter uma arma escondida
Peguei logo os cem reais
Única nota que eu tinha
Dei á ele que sorriu
E me falou... valeu, moça...
E ainda agradeceu...
Me dei conta que sorri...
Penso que foi de nervoso...
E quando alguém me disse
Achar muito cem reais,
Eu respondi... depende...
Pra que lado eu levar...
Digamos que eu paguei
Cincoenta reais por vez
Que me chamou de moça...
Gostei, pois na minha idade,
Ser chamada assim,
É pura felicidade...
Compensou pela alegria,
Porque isso me valeu,
Por anos de terapia....






MANHÃ FELIZ....

Hoje acordei bem cêdo
Saí por aí sem rumo
Delícia andar sem prumo
Sem saber pra onde ir...
Só andar olhando o mundo
Cumprimentando quem passa
E se houvesse uma praça
Eu me sentaria lá...
E andei, andei, andei...
Pouca gente pelas ruas
Em sampa, lá em Pinheiros....
Sete horas da manhã...
Tomei café numa esquina
Desses de coador
Conversei com a menina
Que me serviu pão de queijo
Sentei á mesa e ela veio
Desenvolta, me falou...
Bonito, o seu cabelo...
Agradeci, ela voltou
Servir atrás do balcão
Vontade de dar um beijo
Simpatia de menina...
Alegre assim, de manhã...
Servindo tão bem á todos...
Saí, falei tchau pra ela
Que me deu lindo sorriso
Desejou-me um belo dia
Andei mais....me vi feliz
Mais adiante, um homem velho
Senhorzinho de andar trôpego
Cumprimentou-me com gosto
Devolvi um sorriso doce...
Fui adiante.... olhei vitrines
Me encantei com tantos livros
Expostos num sebo antigo
Seu dono estava lá...
Me ofereceu cafézinho
Tomamos juntos... delícia
Conversamos sem parar
Falamos de tantas coisas...
Mostrou-me uns livros raros
Tão ou mais antigos que eu
Saí encantada de lá...
E andei... andei... andei...
Sem vontade de voltar...
Ah, meu Deus... como foi bom
Sair atoa, sem pressa...
Assim, só pra observar
O transeute passar
Ver a vida de manhã
E com tudo me encantar...


Número 182

CHUVA DE ROSAS

Sonhei numa bela noite
Com pétalas caindo aos montes
Vinham em muitas cores
Vermelhas, brancas, douradas...
A prata predominava
Tinha pétalas azuis
Um azul que eu nunca vi
E as pétalas ao cairem
Viravam asas de anjos
Desciam caindo... vindo...
Sem ter pressa de chegar
Vinham todas sobre mim   
Avalanches em cascatas
Tanta rosa eu nunca vi...
Beleza rara, instigante...
Seriam rosas daqui?
Não... beleza tão radiante                               
Como eu nunca, nunca vi...
Deu-me a plena certeza....
Elas não vinham daqui...



183

PÉS NO CHÃO

Minha mãe plantava horta
Pequena, mas dá pro gasto...
Dizia enquanto colhia
Salsinha, cebola e alho
Tinha alface, almeirão
Chicória, rúcula, couve
E ao lado, rente à cerca
Tomate, xuxu, quiabo...
Sempre amei plantações
Ou qualquer planta que fosse
Tenho encanto pelas hortas
Quando saio, aguço os olhos
Viajando, olho ás voltas
E assim que vejo
Nossa....que bela horta!
Sou terra, sou pés no chão...
Tenho em mim uma roceira
Plantadeira, fuçadeira
Saio ás vezes por aí
Procurando, vou buscando
Encontrar plantinha ou outra
Rente aos muros ou às cercas
E mesmo em terras baldias
Alguma planta nativa
Serralha... até tiririca
Que aproveito... sei usar
Tiririca feito suco
Melhora nossa saúde
Serralha...faz tanto bem
Prá pele e digestão
Ah... teem muitas outras também
Que agora nem lembro os nomes
Mas se encontro as reconheço
Fico alegre, acho bom
Aproveito-as quando posso
Sou terra...sou pés no chão...



184

ESTRANHO HOMEM

Certa vez, estranho homem
Pedinte... passou por lá
Na casa pequena e pobre
Nem bateu, foi logo entrando
Dizia estar com fome
Minha mãe o atendeu
Deu-lhe um prato de comida
Rente à porta ele sentou
Comeu feito cão faminto
Não falava... olhava só
Encarava... era enorme
O homem que me ficou
Minha mãe apavorou-se
Nossa casa em lugar ermo
Só a nós... éramos seis
Crianças...  Meu pai ausente
Minha mãe olhava longe
Na esperança do meu pai
Chegar... já escurecia
E o homem calado olhava

Mirando firme a barriga
Tão grande da minha mãe
Prenha, já quase pronto
O filho que havia lá
E o pedinte que não ia...
Não saía do lugar...
Sua barba tão comprida
Nem dava pra precisar
Seu rosto, se era belo...
Ancião ele não era...
Minha mãe com tanto mêdo
Me pediu para rezar
Pra que ele fosse embora
Procurasse outro lugar...
Ou que o marido chegasse
E acabasse a agonia
Mas o homem não se ia...
E então, já bem noitinha
Acendido as lamparinas
O homem se levantou
Pediu água e ciciou
Tinha voz doce, macia...
Olhou firme sua barriga,
E com palavras bem ditas
Ele então pronunciou...
Tens aí belo guri...
Fez-lhe curta reverência
Agradeceu, foi embora
Minha mãe nada falou
E quando chegou meu pai
Tudo a gente lhe contou
Mais uns dias se passaram
Nasceu um forte menino
De olhos claros... tão lindo!...
Coincidência?  Não sei...
Dizem que não existe....


PORTAS ABERTAS

Abro as portas... todas elas...
As da frente e dos fundos
Se pudesse abrir o mundo
Abriria sem pensar
Não deixaria sequer
Uma porta sem abrir
Nem tampouco se fechar...
Abriria, alargaria
Qualquer porta ou potão
Pra entrar qualquer pessoa
Que quizesse aqui morar
Mas abro meu coração
Pra deixar que todos entrem
Sem entraves, empecilhos
E ao ver todos chegarem,
Vou espalhar qualquer brilho
Que eu possa ter comigo...
Quero tirar da memória
Do baú da minha história
As mais gostosas lembranças
Pra espalhar, deixar de herança...
Quero dar da minha aurora
Seu eterno renascer
Dividir minha alegria
E no alvorecer do dia
Quero dar o meu abraço
E pedir que vocês fiquem...
Pois na casa onde eu vivo
Cabem todos os seus donos
Ela é minha, é de vocês                       
Dos que passam, dos que ficam
Dos que vêm buscar abrigo
É a casa dos meus sonhos
A morada que me habita
Vivo nela... ela em mim...
Um dia de cada vez
Ambas cheias de vida...
As duas são de vocês.....





PÃO E VINHO

O pão nosso, é pão divino   
Nosso hino que enleva
Vinho e pão, nosso sustento
Nêles, nosso alimento....
Pão e vinho, transformados
Em fontes do consagrado...
Vinho e pão nossos manjares
Nos sustentam, nos alentam
Nos transformam, nos sublimam...
No pão, a carne divina
No vinho, o sangue da vida...
Elevados nos altares
Consagrados nos sacrários,
Relicários... sêr de nós...
Pão... carne... sustentação...
Vinho... sangue... redenção...



O QUE SINTO, ESCREVO...

Tenho ganas de escrever
O que sinto, quando vem...
Tão forte, causticante...
Preciso transportar... transparecer...
Tirar tudo o que me esxede
E me incomoda estando lá..
Escondido, amoitado, calado...
Me fustiga... Não posso guardar comigo
Preciso contar...
Tenho que estravasar
Vai virar livro?... Não sei...
Não ligo o que vai ser
Ao colocar tudo aqui...
Quero sim, únicamente
Por pra fora, tirar daqui
De dentro...Contar tudo
Quase tudo... Pouco escondo
Livro aberto? Não, porcerto...
Mas poucas páginas fecho
Do meu livro... cheio de cores
Amores e doces saudades
Contém também muitas dores                   
Mas bem mais felicidades...
Conto nele o que vi, ouvi, senti...
O que vejo, o que sei,
E o que penso então saber...
Não tenho nenhum receio
Em expor meus sentimentos...
E assim contando...
Escrevo... escrevo... escrevo...




CEMITÉRIOS

Tenho amizade com eles...
Afinidades...morei perto
De um deles, fui amiga...
Ele foi meu confessor
Fiz genuflexão no cruzeiro
Ajoelhei na cêra quente
Derretendo, fumegantes
Rezei preces tão ardentes...
Fui constante, indo lá...
Vi choros, tantos suspiros
Escutei tristes gemidos
Dos que iam sepultar
Os seus entes tão queridos
Filhos, irmãos, amigos....
Chorei muito, estando lá....
Não, não sou mórbida...
Mas lá, encontrava alento
Tão mocinha, era eu...
E as almas me ouviam
Caladas, me entendiam....
Contava minhas angústias
Pedia que me ajudassem...
Lá, os choros tinham ecos
Me sentia aliviada,
E nas tristezas choradas,               
Sabia não estar sózinha
Conversava com as almas...
E á noite, em minha cama
No vento, ou na doce brisa,
Divagando, eu sempre ouvia
Clamando, as coroas de lata
E o tilintar das cruzinhas...



VIUVÊS

Procuro, busco, não a vejo...
Vivo assim... só por viver...
Quem me dera, disse ele
Na busca, podê-la ver...
Minutos...segundos que fossem
Mas ela... ah... foi embora
Deixando vazio meu colo
Vago, o mesmo solo
Durante anos, pisado
Repisado, calcado
Moldando a vida...
Quem dera, voltasse ela...
Só pra poder contar
Da saudade que me aleja
Tolhe, encolhe, me embota
Desbota meu céu azul...
Tira o riso, traz o pranto
Tirando todo o encanto
Desencantando a vida...
Estou cansado da dor
Saudade do meu amor                                       
Arde o peito, fere a alma
Nada acalma... peço à ela
Vem me buscar, querida...
Continuar nossa lida
Em qualquer desses lugares
Pode ser em noite escura
Ou em noite enluarada
Nos altares das estrelas
Ou nas cores do arco iris
Vou levar as mesmas flores
Que  você plantou aqui
Quero andar a mesma estrada,
Calcar meus pés por aí...
Com você, minha amada...
Vem... me leva daqui...


           

NÓS QUATRO....

Muito bom, nós quatro juntos
Todos num mesmo quarto
Orgia? Não era, eu juro...
Mas foi tão bom, isso tudo...
E foi regado a queijo e vinho
Até choveu um pouquinho
Pra alegrar ainda mais...
A lua também fez sua parte
Aparecendo com arte...
E Baco, o Deus do vinho,
Certamente estava lá
Temendo que não sobrasse
Na taça, nenhum golinho...
Mas com razão, ah... se Baco...
Não sobrou nenhum pouquinho....
E nós, juntos, divagando
Falando de tantas coisas....
Sim, foi muito bom tudo isso...
Zeca, com suas piadas
Luiz, ouvindo quietinho
Nem tanto...ás vezes falava
Ana, dando risadas
E eu? Ah... eu, curtindo tudo
Falando de coisas sérias
E também certas bobagens
Coisas que já nem lembro
Ou nem sei porque falei
Mas... se está no vinho a verdade,
Certamente, o vinho sabe....




NÃO SOU SANTA

Santa, eu não sou
Nem tenho tal pretensão
Em mim há muitos defeitos
Minhas falhas? Sim, as vejo...
Mas busco melhorar sempre
A alma e o coração
Sinto alegria ao me ver                   
Na busca por melhorar
Conscientizar um defeito,
E com isso, crescer mais...
Culpas eu não carrego
Já que isso é tempo ido
Mas busco não repetir
Os erros já cometidos...
Muitas vezes meus fantasmas,
Vêm rondar a minha alma
Mando embora bem depressa
Exorciso eles todos
Não permito que me fiquem
Assombrando vida afora       
Sou eu a dona da história
Sou eu, a protagonista
Escolho o melhor papel
Enceno com perfeição
Dou ênfase á mocinha
Não dou trela pro vilão
E ao descer então o pano
A estrêla se despede
Não fica esperando palmas
Porque ela bem o sabe
Que as vaias ou aplausos
Estão mesmo, dentro dela....




DESESPÊRO


Chovia...bramia o vento
Tão forte, que amendrontava
Minha alma tão criança...
E eu, correndo na chuva
Nem sentia o vento forte
Fustigando a pele jovem...
Desgrenhada, eu corria
Da morte que assombrava
Minha mãe parindo em dores
O seu filho que chegava...
Não sabia pra onde ir
Por favor...alguém me ajude
Quero o sol... não quero a chuva
Ensopando até os ossos
Castigando o corpo jovem
Da menina apavorada...
Guiada só pelo vento
No relento, madrugada...
Decerto que eu nem sabia,
Correndo, porque corria...
Socorro, pedia a alma
Na voz débil da menina...
A capela estava aberta           
Deserta...os santos todos cobertos
Pano roxo...minha alma...
Encoberta... o mesmo pano...
Desnudei todos os santos
E os chamei pra ver meu pranto
Rolando, num rosto pequeno
Sedento por encontrar
A paz, no rosto dos anjos...


ORQUESTRA

Uma orquestra toca ao longe
Remetendo-me ao passado...
Meus ouvidos ouvem perto
Os sons que estão em mim
Ainda...vibrantes....incertos....
Mas tão perto que até doem
Minha alma, assim desperta
Meu presente me deleita,
Minha festa presenteia...
Traz-me distantes segrêdos
Voltando os tempos de outrora
Insegura, busco a aurora
E a encontro ainda em mim
Latente em minha senhora,
Que ao se revelar, me acorda
Me alerta pra sonhar,
Viver, sentir, desejar

Da vida, o lado sonoro
Que entranhado ainda está
Em mim... qual embrião,
Em orquestra se formando
Sugando da vida o mel
Adoçando mais ainda
O amor...cerne da vida....


SORRIR....VIVER....

Foi uma risada longa
Que ao longe, fez seu eco
Ressoou atrás os montes
Trouxe consigo, espalhando
O riso á todos que ouviram
E alegres aplaudiram,
Contagiando em sorrisos
Outros cantos, outros mares
Encantando os que passavam
Desencadeando afagos
Ternura, sonhos, amores
Favores que se trocavam
Por mais sorrisos e graças
E nesse entrelaço,
Formou-se uma cadeia
De amor... muita alegria
Paz....desejos....fantasias
E o sorrir então se fez
Transparecer nos rostos
O gosto por viver mais...
Sorrindo... vivendo.... rindo....







VELHA MENINA...

Certa vez, você passando
Mirou em mim seu olhar
Sorriu doce e ciciou-me
Não entendi o que disse
Mas senti, velha senhora...
O que você quiz dizer...
Aquilo que me falou
Pensando baixo consigo...
Pois em mim, ficou aquilo
De uma forma bem singela
E abriu em mim a flor
Do amor com que me olhou
Sei que me admirou
Viu em mim o que eu sentia...
Onde está você, mulher...
Se já estava tão velhinha....
Ah...com certeza, não mais
Se encontra entre os mortais
Da forma que eu quero ver...
Mas da forma mais sublime
Tal qual o seu doce olhar...
Querida velha...tão jovem...
Alma terna de menina
Senhora...mulher pequena...
Imensa, ficou em mim
Eu também era menina
Trocamos nosso sentir...
Nossas almas parecidas
Nos sentiamos iguais?
Perdidas...tentando achar...
Nossa alma tão sofrida..
Eu, ainda criança...
Você, velha.... e tão menina.....



OBRA PRIMA

Ela estava tão cheirosa
Bem vestida, lindo porte
Se transportava com graça
Tào jovem, tão graciosa...
Requebrava seus quadris
Sutilmente... feito onda
Mansa, silenciosa
Sem saliência, querendo...
Não querendo ao mesmo tempo
Parecer gata manhosa...
Eu a vi... outros a viram
E a olharam com gosto
Bela figura passando
Um rosto mais que perfeito
Qual seria seu defeito
Naquêle corpo esculpido
Matéria prima do barro
Desenhando, moldado
No silêncio, certa vez...
Um casal em doce coito
A fez com muito gosto
Esculpindo na surdina
Noite escura, madrugada
Ou manhã ensolarada
Não importa... dia, hora
Qual o ano, qual o mês
Obra prima, feito deusa
Moça linda... quem te fez?




CORPO E ALMA

Em sonho, vi o corpo de minha mãe
Sepultado...tão sózinho em sua cova
Se ao menos, no sonho tivesse visto
Meu pai, que descansando o mesmo sono,
Estivesse acariciando a sua morta...
Mas não...foi tétrico, aquele sonho...
Quando penso, tenho um sentir estranho
Ao lembrá-la assim tão exposta...
Suas entranhas em avidez devoradas
Imagem desoladora e profana
Mãe... profanaram tuas entranhas...
E ao me ver, soluçando em dor profunda
Me consolou, feito eu fosse uma criança
Então, surgindo bem ao meu lado
Tão igual quanto a vi nos tempos idos
Colocou as suas mãos sobre os meus ombros
E falou... porque chora, minha filha...
Não sou aquilo que você vê
Meu espírito é luz, é alegria...
E sorrindo, foi aos poucos se afastando
Vi seu vulto... tinha a sombra de um anjo...



A CARPIDEIRA

Chora a carpideira Madalena
Seu pranto é dor de pura pena
De si... já que o morto é só algém
Na cena que encena por vinténs...
Chora a carpideira Filoca
A morte já não é nenhum segredo
Desterro, no choro que invoca
Seu sofrer, é pela dor dos seus desejos...
Chora a carpideira Risoleta
O choro pelo filho que partiu
Debandou, errou, fugiu da sêca
O da outra, no caixão ela nem viu...
Chora a carpideira Idalina
O defunto já cumpriu a sua sina
Véu preto e o vestido já rasgado
Moça velha, chora o leite derramado...
Chora a carpideira Izabela
Urra... no caixão se descabela
Ganha seus trocados...não se importa
Com o choro de quem vela a filha morta...
Choram, gritam, se descabelam
Madalenas, Risoletas, Izabelas
Carpideiras encenando um choro falso
Não...o seu choro é verdadeiro...
Tão verdadeiro, quão o sofrimento delas...


                   

FOTOGRAFIA

Olho para ela, me vejo inteira
Sou capaz de acertar seu pensamento
Nos olhinhos estalados da menina
Gorduchinha... ah... quem dera...
Desvendar nela, todos os seus mistérios...
Criancinha, feito anjo sapéquinha
Minha criança tão bravinha, doce, mansa
Infância povoada de vontades
Tantos medos, questinamentos, ah... menina....
Onde estarão seus pequeninos segrêdos....
Olho sua foto sem saudades
Vejo os seus olhinhos lacrimosos
Em você, sou capaz de ver a alma
Vem, criança... eu quero lhe dar meu colo...
Ninar, só pra ver você feliz...
Dorme em sossego, doce anjo
Sonha os sonhos dos arcanjos
Quando acordar, vai se encontrar aqui.
Crescida... acrescida... feliz da vida...

Seus mistérios, não mais serão mistérios
Sua alma caminhou tantos caminhos
E os segrêdos, ah...os seus segredos...
Se acalma, criança....não tenha mêdo...
Não revelo...são segredos....



ESTRELA CADENTE

Vejo uma estrela cadente
Meu desejo é pega-la
Traze-la aqui, e com ela
Saciar tantos desejos
Não só os meus
Mas todos os ensejos
Do mundo...
Vejo... festejo sua caída
São segundos....
Tão rápido, qual fosse
Um piscar de olhos
Um acender de luz
Reluz...               
É a minha estrela
Dela me sinto dona
Caída, não me abandona
Meus desejos estão lá
Coloquei em todos eles
Os melhores pensamentos
Num piscar...
Oxalá, estrela minha...
Você traga a harmonia
O amor, fraternidade
Pra dentro de cada um...
Abra espaço...afrouxe o laço
Acenda a luz, aperte o abraço
Na alma, no coração
Reluzindo, reacendendo
A chama que já existe
Só precisa reavivar
Reacender...fazer brilhar....




O BASTARDO

Corria daqui... dali....
Ligeirinho, tinha pressa
Carriola carregada
Tão criança... pequenino
Burro de cargas da família
Foi pego aos tres aninhos
Ficou órfão muito cedo
E o casal que o adotou
O fazia de brinquedo
Quanta judiação... surras....
Tundas... e nada de dizer não
Era um menino bom
Mas estranho...
Feinho... desarranjado
Estava sempre suado
Sujo, desdentado
Mas sorria, sorria sempre
Sorriso desajeitado
Parecia pedir desculpas
Sem ter culpa...
Sua imagem não me sai
Eu também era criança...
Minha mãe o aconselhava
Que tivesse paciência
Ele dizia... vou ser padre
Um dia, vou rezar missa
Comia aquilo que davam
E as roupas se eram grandes
Ou se eram apertadas
Usava...estava bom....
Sabia agradecer
Vivia de migalhas
Os tempos eram outros
Quase ninguém se importava
Pelas  crianças sofrendo
Era assim...crianças...
Só um detalhe
Elas não tinham  vez
E assim se fez com ele...
Soube muito tempo depois
Que tentou ser sacerdote
Mas, por ser afeminado
Lá também foi rejeitado....


MINHA MULHER


Minha mulher tem anseios
Medos, fobias, trejeitos
Esgares, olhares feitos
Imperfeitos e bondosos
Tem olhares curiosos
Cheios de raiva
Em brasa...dispersos...
Compenetrados...
Minha mulher é manhosa
Tão bondosa....
Mas tem polvora nas ventas
Esquenta, arde, se acovarda
Retarda pra resolver
Quer sempre fazer valer...
Se entristece por pouco
Se alegra por muito menos
Minha mulher é pequena
Mas pode ter também
O tamanho que quizer
É intensa... terna... eterna....
É mulher....




TARDES

Vejo as tardes chegando
Tão mansas, prenunciando
A noite das estrelas
Companheiras dos meus sonhos
Chega a tarde, me invade
A vontade do aconchego
O desejo de esperar
A chegada de quem vem
Mais um dia que se vai...
Os cheiros doces rescendem
Dos lares, preparando
Refeições feito altares
Sagradas, consumidas
Em comunhão... orações...
União entre as pessoas
São bênçãos que a tarde traz
Entardecer... vejo a tarde
Louvando por mais um dia
Louvada seja a noite
Chegando.... vindo...
Fazendo preces...
Entoando hinos...



EU VI

Uma criança sorrindo
Um cãozinho saltitando
Um pássaro livre
Mais um dia chegando
Uma reza bem rezada
Uma fada encantada
Me dizendo para crer
No amor, no amanhecer...
Uma janela aberta
Uma alma liberta
Muitas portas se abrindo
Vi você entrar sorrindo
Pra eu amar, pra ficar
Sempre, eternamente
Ao meu lado, sem passado
Só o presente
Que me foi dado
Entregue...
Num envólucro simples
Sem nenhuma ostentação
Pensei sonhar
Não era sonho
Era você... um anjo...
Aceitei sem nem pensar
Pedi a Deus que o guardasse
Pra mim...pra vida toda
E Ele me ouviu
Eu sorri, você sorriu
Me acalentou, me amou
Me amparou
Sob o sol
Sob a chuva
Á luz da lua
Me fez sua....     


LUA


Surge a lua...
Nua... despojada
Só ela... prateada
Donzela sacrossanta
Ilumina... iluminada
Fantasio nela
Um manto de cristal
À sua destra,
Um castiçal de prata
Seu manto cresce
E arrastando traz consigo
Um brilho
Nunca visto igual...
Me visto dela
Sou senhora....
Sou jovem,
Tal qual aurora...
Meu rosto,
Se deixa enfeitar...
Dela  eu me visto
Seu festiço me envolve
Em teia argenta...
Toca em mim
Eu levito
Não é sonho...
É real...me transporto
Minha lua é de mim...
Fecho os olhos
Alcanço...abraço...
Minha lua é assim....
Se despe...ousa....acontece...
Não tem seg\redos pra mim
Lua...óh  lua nua...
Minha amiga...veste o véu....
Me abraça...me devassa....
Me leva ao céu...



























                                                   

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

aprendendo



A MENINA E OS LIVROS


Eu a vi fingindo ler
Achei graça...que audácia...
Tão novinha, pequenina
Querendo ser gente grande
Virava as páginas... sorria.
A cada figura que via
Fazia caras e bocas
Fiquei louca de vontade
De apertar a menininha
Mas eu não podia
Ela estava concentrada
Na leitura... tinha junto
Vários livros... e lia...
Virava os olhos, fingia
Queria ser notada
Vez em quando olhava em volta
Pra sentir se era vista
E lia... mexia os lábios
Ah, meu Deus... que coisa linda
Ela e eu na livraria...
Perguntei:- Você já lê?
É ainda tão novinha.....
E ela me respondeu
Não sei ainda, vovó....
Mas já estou aprendendo
E vou ler todos os livros
De todas as livrarias...
Fiquei pasma... tão novinha...
Essa menina promete
Tão esperta, essa netinha.








CHORAR... SORRIR


Meu choro é fácil
Mas muitas e muitas vezes
Eu não choro só por mim
Choro também pelo outro
Pelas dores que vão aí....
Meu choro é destampado
Ruidoso, destemperado
Choro por quem eu amo
Por meus frutos, meus sabores
Choro pelos horrores
Dos sêres tão desumanos...
Choro a dor que fere o outro
Ferindo também a mim
Não choro pouco
Me entrego, descarrego
Não me cabem tantas dores...
Me desacostumei delas
Já que as minhas são tão poucas
Mas entendo a dor que dói
Então choro a dor do outro...
Choro tudo o que preciso
Aí, tudo se dilui
Vem então o meu sorriso...
Não esqueço a dor alheia
Mas sorrisos não me faltam
São fartos... Se assemelham
Às colheitas generosas
Que colhemos todo dia
E num misto de choro e riso
Sobram sempre os meus sorrisos...









DEUS FALA

Eu deixo que Ele me fale
Escuto... respondo, me entrego
Sua conversa me embala
Me leva a pensar melhor
Refletir... sentir
Querer melhorar mais...
A cada dia, um novo passo
Me harmonizo, me encontro
Deixo entrar sua voz tão doce
E em todos os encontros
Quando escuto o que Ele diz
A vida flui bem melhor...
Deixo abrir a consciência
Recebo graças infindas
Como fossem rosas brancas
Colhidas do meu jardim...
Ouço a voz... respondo baixo
Sinto forte o Seu abraço
E assim, deixando vir
Sua voz no coração
Tenho a clara sensação
De uma eterna segurança
Pois Ele me fortalece
Caminhamos de mãos dadas
Aumento a minha fé
Reencontro a minha paz
Tenho novas esperanças...





ELE ELA

Ela esperava por ele
Ele não vinha
Ela chorava
Ele se ria
Ela implorava
Ele tampouco via
A dor dilacerando,
A vida sofrida
O amargo na boca,
Só ela sentia...
O peito sangrando,
A fome dos beijos
O eterno desejo...
Saudade chorada
Cansada, doída
Uma sede danada
Do amor que não tinha...
Então ele veio...
Matou seus desejos
Cobriu-a de beijos
Prometeu voltar...
Deixou esperanças
Levou seu melhor
Brincou de querer
Pantou a semente
Seu fruto no ventre
E pela tangente
Saiu, não quiz mais
E ela menina
Meu Deus... quanta dor
Que triste a sina
De se apaixonar
Por aquele homem
Que achou fosse nobre
Mas não... era reles
De espírito pbre...






digitada em 27.12.2013

O SINEIRO


Vivas ao sineiro da matriz
De há muitos, muitos anos
Uns cincoenta ou até mais...
Ao ouvir dobrar o sino
A cidade já sabia
Marcelino estava lá
Cumprindo sua missão...
Fazia de coração
Qualquer toque, repicar
Fosse dobre de finados
Fosse anunciando a missa
Enterro de gente velha
Ou enterro de um anjinho
Lá estava Marcelino...
Cada fato, um dobrado
Nem precisava avisar
Todo mundo já sabia
O que estava acontecendo
Sineiro tão antigo
Tocando seu velho sino
Companheiros na missão
De chorar os seus finados
De alegrar a multidão
Nos toques tão variados
Nobre arte... aprendizado
Antigo...bater do sino
Não se aprende assim sem mais
Leva tempo... só Deus sabe...
Marcelino dissertava
Sobre cada um dos toques
Ah... badalar missa do galo
Era o som que mais gostava
Tão alegre... repicava
Festivo... toque de gala

Também era muito bom
O toque das seis da tarde
Mas era tão triste o dobre
Anunciando lento
O enterro de criança...
Marcelino contava
Subir  tantas escadas
Pra alcançar aquela corda
E se fosse anunciar
Missas...coisas alegres
Nem sentia ou se cansava
Mas se fosse anunciar
O enterro de um anjinho
Ou de gente ainda jovem
Ah... como isso lhe pesava...
Marcelino... bela arte
A sua de tocar sino
Começou desde menino
Tantos anos...velho homem
Velha corda...velhos hinos
Tanta história em seus acordes....
Ainda estão em seus ecos
Mas quando você partiu
Ninguém tocou pra você
Tão bonito, aquele sino...


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

digitada no dia de natal


BONECA DE PAPELÃO

Onde está você, bonequinha
Eu pensei que fosse minha...
De papelão, sem cabelos
Tão careca... sem roupinhas
Onde foi parar você
Nessa vida um tanto incerta
Me procurando nos sonhos
Tristes, parcos, risonhos...
Onde andará, minha amada
Tão feinha....desejada....
Onde foi que eu a deixei
Bonequinha de cor rosa
Lembra... tanto conversei
Éramos nós tão prosas...
Você e eu... eu e você
Conversávamos tal qual
Comadres de há muito tempo...
Que saudade de você,
Papelão jogado ao vento...
Depois daquela tragédia
Você voou... virou migalhas
Naquela chuva ingrata
Que levou você de mim
O que resta de você
Bonequinha, meu amor...
Ah....eu sei... está inteira
Guardada em meu coração...
Triste foi a sua sina
Eu, menina te deixei
Sem querer... não vi a chuva
Que levou você de mim
Assim... sem me avisar....
Porque, minha bonequinha...
Será que não te cuidei?
Mas você, minha lindinha
Nunca, nunca me saiu
Guardo- a bem comigo
Já ganhei o meu castigo
Eramos tão sapecas...
Não posso te-la em meu colo
Mas tenho você na alma
Relembro... penso... me acalma...


A MENINA E OS LIVROS


Eu a vi fingindo ler
Achei graça...que audácia...
Tão novinha, pequenina
Querendo ser gente grande
Virava as páginas... sorria.
A cada figura que via
Fazia caras e bocas
Fiquei louca de vontade
De apertar a menininha
Mas eu não podia
Ela estava concentrada
Na leitura... tinha junto
Vários livros... e lia...
Virava os olhos, fingia
Queria ser notada
Vez em quando olhava em volta
Pra sentir se era vista
E lia... mexia os lábios
Ah, meu Deus... que coisa linda
Ela e eu na livraria...
Perguntei:- Você já lê?
É ainda tão novinha.....
E ela me respondeu
Não sei ainda, vovó....
Mas já estou aprendendo
E vou ler todos os livros
De todas as livrarias...
Fiquei pasma... tão novinha...
Essa menina promete
Tão esperta, essa netinha.








CHORAR... SORRIR


Meu choro é fácil
Mas muitas e muitas vezes
Eu não choro só por mim
Choro também pelo outro
Pelas dores que vão aí....
Meu choro é destampado
Ruidoso, destemperado
Choro por quem eu amo
Por meus frutos, meus sabores
Choro pelos horrores
Dos sêres tão desumanos...
Choro a dor que fere o outro
Ferindo também a mim
Não choro pouco
Me entrego, descarrego
Não me cabem tantas dores...
Me desacostumei delas
Já que as minhas são tão poucas
Mas entendo a dor que dói
Então choro a dor do outro...
Choro tudo o que preciso
Aí, tudo se dilui
Vem então o meu sorriso...
Não esqueço a dor alheia
Mas sorrisos não me faltam
São fartos... Se assemelham
Às colheitas generosas
Que colhemos todo dia
E num misto de choro e riso
Sobram sempre os meus sorrisos...









DEUS FALA

Eu deixo que Ele me fale
Escuto... respondo, me entrego
Sua conversa me embala
Me leva a pensar melhor
Refletir... sentir
Querer melhorar mais...
A cada dia, um novo passo
Me harmonizo, me encontro
Deixo entrar sua voz tão doce
E em todos os encontros
Quando escuto o que Ele diz
A vida flui bem melhor...
Deixo abrir a consciência
Recebo graças infindas
Como fossem rosas brancas
Colhidas do meu jardim...
Ouço a voz... respondo baixo
Sinto forte o Seu abraço
E assim, deixando vir
Sua voz no coração
Tenho a clara sensação
De uma eterna segurança
Pois Ele me fortalece
Caminhamos de mãos dadas
Aumento a minha fé
Reencontro a minha paz
Tenho novas esperanças...





ELE ELA

Ela esperava por ele
Ele não vinha
Ela chorava
Ele se ria
Ela implorava
Ele tampouco via
A dor dilacerando,
A vida sofrida
O amargo na boca,
Só ela sentia...
O peito sangrando,
A fome dos beijos
O eterno desejo...
Saudade chorada
Cansada, doída
Uma sede danada
Do amor que não tinha...
Então ele veio...
Matou seus desejos
Cobriu-a de beijos
Prometeu voltar...
Deixou esperanças
Levou seu melhor
Brincou de querer
Pantou a semente
Seu fruto no ventre
E pela tangente
Saiu, não quiz mais
E ela menina
Meu Deus... quanta dor
Que triste a sina
De se apaixonar
Por aquele homem
Que achou fosse nobre
Mas não... era reles
De espírito pbre...







 PALAVRAS

Palavras soltas
Ao vento
Catavento
Leva o vento
Se dispersam
Diluem... conduzem
Seduzem...induzem
Palavras...
Pensadas
Repensadas
Bem faladas
Benditas
Mal ditas
Não ditas
Aflitas
Desditas...
Meias palavras
Pausadas
Simples
Rebuscadas
Doces ou amargas
Mal ou bem intecionadas
Tantas palavras....
Trancadas
Silenciadas...
Na dor caladas....
                   




BONECA DE PAPELÃO

Onde está você, bonequinha
Eu pensei que fosse minha...
De papelão, sem cabelos
Tão careca... sem roupinhas
Onde foi parar você
Nessa vida um tanto incerta
Me procurando nos sonhos
Tristes, parcos, risonhos...
Onde andará, minha amada
Tão feinha....desejada....
Onde foi que eu a deixei
Bonequinha de cor rosa
Lembra... tanto conversei
Éramos nós tão prosas...
Você e eu... eu e você
Conversávamos tal qual
Comadres de há muito tempo...
Que saudade de você,
Papelão jogado ao vento...
Depois daquela tragédia
Você voou... virou migalhas
Naquela chuva ingrata
Que levou você de mim
O que resta de você
Bonequinha, meu amor...
Ah....eu sei... está inteira
Guardada em meu coração...
Triste foi a sua sina
Eu, menina te deixei
Sem querer... não vi a chuva
Que levou você de mim
Assim... sem me avisar....
Porque, minha bonequinha...
Será que não te cuidei?
Mas você, minha lindinha
Nunca, nunca me saiu
Guardo- a bem comigo
Já ganhei o meu castigo
Eramos tão sapecas...
Não posso te-la em meu colo
Mas tenho você na alma
Relembro... penso... me acalma...

























































domingo, 22 de dezembro de 2013

outras do pretinho em 22.12.2013


MULHER FORTE

Sou mulher forte
Tive a sorte de nascer
Tirando leite de pedras
Amansando cobras
Levando sovas
Pegando sobras
Na vida bruta
Criei feridas
Curei-as todas
Não sofro mais....
Que a vida é isso
Mostrar serviço
Tocar em frente
Deixar sementes
Do que aprendemos...
Limpar o mal
Lavar o sal
Deixar pra lá
Qualquer veneno...
Fazer crescer
Fazer valer
Acrescentar...
Pois o que resta
No fim das contas
É uma soma
De coisas boas
Nossos valores...
Doces sabores....
Que a vida é simples
A vida é boa....





O BASTARDO

Corria daqui, dali...
Ligeirinho, tinha pressa
Carriola carregada
Tão criança... dura infância
Burro de cargas da família
Foi pêgo aos tres aninhos
Ficou órfão muito cedo
E o casal que o adotou
O fazia de brinquedo
Quanta judiação...surras...
Tundas... nada de dizer não
Era um menino bom
Mas estranho...
Feinho, desarranjado...
Estava sempre suado
Sujinho, desdentado
Mas sorria amiude
Sorriso desajustado
Parecia pedir desculpas
Sem ter culpas...
Sua imagem não me sai
Eu também era criança
Minha mãe o aconselhava
Que tivesse paciência
Ele dizia.... vou ser padre
Ainda vou rezar missa...
Comia aquilo que davam
E as roupas, se eram gastas
Ou se eram apertadas
As usava mesmo assim
Sabia agradecer
Vivia de migalhas
Os tempos eram outros
Quase ninguém se importava
Pelas crianças sofrendo
Elas não tinham direitos
Era assim...crianças,
Só um detalhe...
Elas não tinham vez
E assim se fez com ele...
Soube anos depois
Que tentou ser sacerdote
Mas por ser afeminado
Lá também foi enjeitado....






A FREIRA

Foi bem cedo pro convento
Seus pais assim quizeram
Queriam a filha freira
Porém, ela mesma não queria
Sonhava se casar
E ter filhos de montão
Dizia... teria tido uns oito,
Dez...ah, que desgosto...
Linda, aquela freirinha
Já madura... labutando
Na cosinha do colégio
Sacrilégio o que fizeram...
Enquanto cosinhava, rezava
Eu era curiosa, queria saber
O porque de tanta reza
Que pecados podia ter...
Queria trocar com ela
Dizia...me dê os seus....
Entrego os meus
Ela ria,  respondia ...não queira
Tenho pecados de sobra
Meus pensamentos ardem
A consciência cobra
Entreguei a minha dor
Meu amor, entrego a Deus
Sou feliz... cincoenta anos
Interna nesse lugar
Vim aos quinze
No começo só chorava
Saudade da família
Ah... saudade que me matava...
Todos se foram...
Fiquei eu e os meus tesouros
Meus santos, relicários...
Meu sacrário está em mim
Pensando bem,
Acho que foi melhor assim....





HORIZONTES

Da minha janela olho longe
Vejo tênue o horizonte
O sol esparramando
Se diluindo
Formando cores
Contornando...
Diviso claro as nuvens
Que separam as imagens...
Olho longe... me prendo
Me atenho nas mensagens
Ah... o por do sol
No horizonte...
É Divino...
Me deleito...Me encantam
Nuvens mansas... coloridas
Sol dourando verdes montes
Espetáculo de cores...
Coloco lá meus temores
Faço versos... mais não posso
A beleza está além
Tento encontrar a fonte
Me inspiro...me transporto
Na grandeza do horizonte....



OCEANO

Tenho em mim um oceano
De planos, desejos, sonhos...
E nas águas que me acalmam
Ondas que vão e vêm
Flutuantes, espumando
Branquinhas elas navegam
Como um barco remando
Na sutileza dos lagos
Na gentileza dos rios...
Às vezes me vêm a mil
Deixo que as ondas venham
Me contenho... é preciso
Sei querer... vou lá buscar
Bem no fundo do oceâno
Volto trazendo tudo
Aposto no que acredito
Procuro pensar no bem
Peço só o que mais preciso
Agradeço... me engrandece
Todos os bens recebidos
Sim, tenho em mim um oceâno...
Como todo mundo tem
Nele busco sobretudo
Saber mais do que já sei...
Nas marés, eu me ajeito
Aceito qualquer ajuda...
Quando esbarro na tristeza
Saio logo, não me afogo
Acredito sim, no bem...
Nas ondas que trazem, levam
Num eterno vai- vem...







ENTARDECER

Vejo as tardes chegando
Mansas, prenunciando
A noite calma das estrelas
Companheiras dos meus sonhos...
Chega a tarde, me invade
A vontade do aconchêgo
O desejo de esperar
A chegada de quem vem
Mais um dia que se vai...
Outra noite logo chega
Os cheiros doces rescendem
Dos lares que então preparam
As refeições feito altares
Sagradas, consumidas
Em comunhão de orações
União entre as pessoas
São bênçãos que a noite trás
Entardecer... doce é a tarde
Louvando por mais um dia
Louvada seja a noite
Chegando... vindo
Colhendo preces
Entoando hinos...








O AMOR DE VOCÊ

Você trouxe, me entregou
Eu aceitei de bom grado
Seu agrado, como fosse
Um cesto cheio de flores...
Você chegou desde sempre
E me trouxe tão sómente
Um amor que eu nunca vi
Não sabia que isso existe
Não conhecia tão real...
Verdadeiro amor primeiro
Mas você trás até hoje
Quando chega... quando sai...
Nunca me deixa só
Já que você é capaz
De doar, oferecer
Sem sequer pensar em ter
Recompensa do que fez...
Não espera nada em troca...
Você doa sem reservas
Entrega, e no entregar,
Esquece... nem lembra mais
O que entregou de si
Se vai receber ou não
Gentilezas desse gesto...
Pois seu coração é nobre
Seu amor se manifesta
Todo dia, qualquer hora
Porque amor pra oferecer
Você, querido...
Tem de sobra...






transpostos do pretinho em 22.12.13


FOFOCA NA ROÇA

Candoca acordava cedo
Fazia tudo correndo
Tanta pressa
Serviço malfeito
Acabava depressa
Tinha a língua afiada
Saia de casa
Rezava  pros santos
Não vão por quebranto
Na sua beleza...
Conversava com todos
Tinha muitas comadres
E não por maldade,
Mas ia dizendo
O que dava na telha
Vi ontem o compadre
João da Belmira
Olhando comprido
Pra sua vizinha
Aquela... a Cidinha
E falava, falava
Que língua é pra isso
Não para na boca...
Cabocla de peitos,
Trejeitos, esgares...
Quem diz que a Candoca
Faria uma troca
Com a vida que tinha...
Diziam na roça
Que era um pitel...
E o seu coronel
Senhor Zé dos Anjos
Caboclo maneiro
Dava tudo pra ela
Vestidos de sêda
Sapatos de saltos
Requebra, requebra,
Ia longe a Candoca
Levando as fofocas
Parando nas casas
Na venda do Tonho
Despejava miúdo
O que nem sabia
Com finta de anjo       
Falava, contava...
Seu Tonho...não liga...
Vai ver é só prosa
O que andam falando
Da comadre Rosa....
E tem a Mercedes
Com cara de santa
Mas mal se levanta
Já fez suas tranças
E vai pra janela....
E a vaca da Zefa
Que vive rezando
Já deu o que tinha
Nem é mais donzela...
Candoca, Candoca
Você tão bonita
Me lembro tão bem
Mas era um perigo
Falavam contigo
Tomando cuidado
Diziam...coitado
Do seu Zé dos Anjos
Tem Mulher sabida
Tão bela e fogosa
Mas tão venenosa....


...

ESPANTALHO

Um assobio estridente
Atravessou pala estrada
Assobio de morte...
Vi a morte atravessada
Pendurada no galho
Balançando o espantalho
Roxo, azul, transfigurado
Desfigurado, esquisito
Aquele apito me fere
Até hoje... nunca mais
Me saiu...Nem sei de onde
Veio forte o assobio
Corri feito mulher doida
Atravessei meu caminho
Nem senti pisar espinhos...
À noite eu acordava
Sonhando...aquele rosto
Tão roxo no corpo mole
Balançando... ventania
Dia, noite...todo dia...
Por favor, meu pai.
Me acode...
Tenho mêdo,
Me liberta daquela corda...
Sufocando, balançando
Agarrada ao homem morto
Me sufoca na garganta
Pai, me acorda....
Me livra daquela corda....




VOCÊ DORMIU

Eu vi chorando a lua
As dores que eram suas
Vi lágrimas caindo
Argentas, brilhantes densas
Clareando a escuridão
Vi chorar seu coração
De tristeza e agonia
Coloquei-me em oração
Esperei raiar o dia
Vi o sol nascendo ao longe
Clareando, iluminando...
Senti pena quando vi
Você ainda chorando
Pela dor que era tanta
Nem dava pra esconder
Então fiz minha promessa
Implorei com minha prece
Dai, Senhor, a hora é essa
Alento e aceitação
Dai a paz da qual precisa
Esse pobre coração
Não o deixe assim sózinho
Nem a deixe sofrer tanto
E chorei, deixei que o pranto
Viesse me acalmar
E então eu vi você
Olhar longe, olhar vazio
Encostei meu corpo exangue
De uma noite sem dormir
E dormi igual um anjo
E você também dormiu...




NASCEU MAIS UM

Quando o dia clareou
Ele foi buscar ajuda
Não podia mais ouvir
Os lamentos da mulher...
Quando o dia amanheceu
E a chuva amainou
Pos a capa rota e velha
E saiu meio abobado
De uma noite sem dormir
Me pediu ficar com ela
Levantei bem sonolenta
Escancarei a janela
Peguei o mais novo ao colo
Que chorava sem parar
Acendi o fogão a lenha
Fervi leite, fiz café
Puxei água da sisterna
Pus no preto caldeirão
Pra ferver, meu pai pediu
Ao sair, sem mais dizer
Mas eu sabia...
Que mais um ia nascer...
Esperei eles chegarem
Minha mãe gemia agudo
E os outros já acordando...
Era tudo feito ás pressas
Só a criança não vinha
Talvez não tivesse pressa
De nascer em tal lugar
E corre daqui, dali...
Nemdeiconta, quando vi,
A parteira segurava
O menino já limpinho...
Muita roupa pra lavar
Muito sangue pra limpar
Mas tudo muito escondido
Camuflado nos caminhos
E a pedido do meu pai,
Matei a galinha gorda
Fiz a canja, dei á ela
Tanto esforço, veio a fome...
Continuei minha lida
E já um tanto perdida
Chorei, nem sei explicar...
Mas acho que de impotência
Tanto pêso em minhas costas...
Mais um irmão nascido
Tinha tanto o que cuidar
Naquele lar sem recursos
Me vi só, me achei cansada
Tão menina... achava abuso...


TEXTOS NUMERADOS DE 501 A 518



NOVEMBRO 2013 – TEXTOS ZÉLIA


NÚMERO 501
HALLOWEEN
Crianças passam sorrindo
Param, olham, ficam tempo...
Observam alegrinhas
Os enfeites que coloco...
Me perguntam: Vai ter festa?
Eu respondo: Vai ter doces
Aqui mesmo... vem pegar...
Vou por mesa enfeitada
Pirulitos, doces balas
E luzinhas pra alegrar
Quero ver vocês aqui
Podem vir fantasiadas
De bruxinhas e bruxinhos
E venham bem animadas...
Podem vir com qualquer roupa
Mas venham pra minha oferta...
Não tem coro nem orquestra
Mas tem as minhas risadas
E o riso de vocês...
Venha mesmo, criançada...
Trazer aqui seu cantar
Sua doçura e encanto
E a energia dos anjos
Pra eu poder me alegrar...
Venham, lindas criancinhas
E tragam toda a alegria...
Deixem em minha casa
O som lindo das risadas
E também os seus anseios
Deixem todos os seus medos...
Tantos beijos quero dar
Quantos meus lábios tiverem...
E ao beijá-las, não me neguem
A promessa de voltar...



NÚMERO 502
VIVER O AGORA
Gosto da vida assim
Nem penso em ir embora...
Tão cedo,  não quero ir
Me pego sempre pensando
Nos ganhos que a vida traz
Vivi os meus pesadelos
E em meio a tantos medos,
Acordada, tive sonhos
Risonhos,  cheios de paz...
Fui aprendendo a pensar
No melhor, no bem maior
Aprendi a acreditar
Ver no amor a solução
Olhar com o coração
Tirar da vida o melhor...
Do amargo eu tiro o mel
E encontro o meu troféu
Guardado dentro de mim...
Me esforço pra ser assim
Separando o bem do mal
Tentando ser, maior que o ter
E assim vou pouco a pouco
Galgando os meus degraus
Faltam muitos pra subir

E atingir o que é real
Mas eu sei que chego lá
Não importa a demora
Pois o que mais importa
É viver bem meu agora...
.....................................................




Número 503
OBRA PRIMA

Ela estava tão cheirosa
Bem vestida, lindo porte
Se transportava com graça
Tão jovem, tão graciosa...
Requebrava seus quadris
Sutilmente... feito onda
Mansa, silenciosa
Sem saliência, querendo...
Não querendo ao mesmo tempo
Parecer gata manhosa...
Eu a vi... outros a viram
E a olharam com gosto
Bela figura passando
Um rosto mais que perfeito
Qual seria seu defeito
Naquele corpo esculpido
Matéria prima do barro
Desenhado, moldado
No silêncio, certa vez...
Um casal em doce coito
A fez com muito gosto
Esculpindo na surdina
Noite escura, madrugada
Ou manhã ensolarada
Não importa... dia, hora
Qual o ano, qual o mês
Obra prima, feito deusa
Moça linda... quem te fez?



Número 504
NHÁ CHICA  e NHÔ ZÉ
Na casa da Chica
Tinha banho de bica
Penico no quarto
Travesseiro de pena
Colchão de palha
Fogão de lenha
Bule na chapa
Caneca de lata
Terreiro limpinho
Paineira na porta
E uma bela horta
Nhô Zé tocava
Viola baixinho
Cantava rimando
Amor, amorzinho
Me enche de beijos
Me dá seu carinho
Matava os desejos...
Pitava na palha
Me traz pão de queijo
Jogava as migalhas
Vem cá passarinho
Lidava na roça
Trazia pra casa
Colheita que dava
Nhá Chica rezava
Pra Deus conservar
Marido tão bom
Não há outro igual...
Vestido de chita
Domingo ia à missa
Mãos dadas, faceira
Não é brincadeira
Cuidar das galinhas
Terreiro, capina
Porcada, que mais...
Rezava, rezava
Pedia à miude
Saúde e o pão nosso
Pra nunca faltar...
Agradecia as graças
Não tinham desgraças
Alegria era farta
A vida tão boa
O amor tinha vez
Pois é Nhá Chica
Pois é Nhô Zé
Sodade docês...
Beijos, inté...

n. 505
MUNDOS
Ela surgiu toda meiga
Seu carisma transbordando
Tão mimosa, tanto dengo
Menina...flor tão cheirosa
Tinha ares de rainha
Bela, qual flor se abrindo
Era doce seu caminho
Viu o mundo passando
Por ela, em desalinho
Sentiu um desejo forte
Mudar aquele caminho
Colocar flores, amores
Em qualquer lugar que fosse
Mas o mundo passou adiante
Deixando-a só a pensar
Na vida... busca incessante
Parecia tão distante
O mundo que a viu passar...
Resolveu seguir em frente
Buscando mundos melhores
E o mundo cativante
Depressa a trouxe de volta
Confusão de tantos mundos
Passando por todos nós
Uns ficam vendo passar
Outros passam...sonham alto
Mas a menina ficou
E sonhando... encantada,
Amou...passou..
............................................................


Número 506

SORRIR....VIVER....

Foi uma risada longa
Que ao longe, fez seu eco
Ressoou atrás os montes
Trouxe consigo, espalhando
O riso á todos que ouviram
E alegres aplaudiram,
Contagiando em sorrisos
Outros cantos, outros mares
Encantando os que passavam
Desencadeando afagos
Ternura, sonhos, amores
Favores que se trocavam
Por mais sorrisos e graças
E nesse entrelaço,
Formou-se uma cadeia
De amor... muita alegria
Paz....desejos....fantasias
E o sorrir então se fez
Transparecer nos rostos
O gosto por viver mais...
Sorrindo... vivendo.... rindo....


Número 507

VELHA MENINA...

Certa vez, você passando
Mirou em mim seu olhar
Sorriu doce e ciciou-me
Não entendi o que disse
Mas senti, velha senhora...
O que você quiz dizer...
Aquilo que me falou
Pensando baixo consigo...
Pois em mim, ficou aquilo
de uma forma bem singela
E abriu em mim a flor
Do amor com que me olhou
Sei que me admirou
Viu em mim o que eu sentia...
Onde está você, mulher...
Se já estava tão velhinha....
Ah...com certeza, não mais
Se encontra entre os mortais
Da forma que eu quero ver...
Mas da forma mais sublime
Tal qual o seu doce olhar...
Querida velha...tão jovem...
Alma terna de menina
Senhora...mulher pequena...
Imensa, ficou em mim
Eu também era menina
Trocamos nosso sentir...
Nossas almas parecidas
Nos sentiamos iguais?
Perdidas...tentando achar...
Nossa alma tão sofrida..
Eu, ainda criança...
Você, velha.... e tão menina.....


Número 508

PORTAS ABERTAS

Abro as portas... todas elas...
As da frente e dos fundos
Se pudesse abrir o mundo
Abriria sem pensar
Não deixaria sequer
Uma porta sem abrir
Nem tampouco se fechar...
Abriria, alargaria
Qualquer porta ou potão
Pra entrar qualquer pessoa
Que quizesse aqui morar
Mas abro meu coração
Pra deixar que todos entrem
Sem entraves, empecilhos
E ao ver todos chegarem,
Vou espalhar qualquer brilho
Que eu possa ter comigo...
Quero tirar da memória
Do baú da minha história
As mais gostosas lembranças
Pra espalhar, deixar de herança...
Quero dar da minha aurora
Seu eterno renascer
Dividir minha alegria
E no alvorecer do dia
Quero dar o meu abraço
E pedir que vocês fiquem...
Pois na casa onde eu vivo
Cabem todos os seus donos
Ela é minha, é de vocês                       
Dos que passam, dos que ficam
Dos que vêm buscar abrigo
É a casa dos meus sonhos
A morada que me habita
Vivo nela... ela em mim...
Um dia de cada vez
Ambas cheias de vida...
As duas são de vocês.....

Número 509

PÃO E VINHO

O pão nosso, é pão divino   
Nosso hino que enleva
Vinho e pão, nosso sustento
Nêles, nosso alimento....
Pão e vinho, transformados
Em fontes do consagrado...
Vinho e pão nossos manjares
Nos sustentam, nos alentam
Nos transformam, nos sublimam...
No pão, a carne divina
No vinho, o sangue da vida...
Elevados nos altares
Consagrados nos sacrários,
Relicários... sêr de nós...
Pão... carne... sustentação...
Vinho... sangue... redenção...




Número 510

O QUE SINTO, ESCREVO...

Tenho ganas de escrever
O que sinto, quando vem...
Tão forte, causticante...
Preciso transportar... transparecer...
Tirar tudo o que me esxede
E me incomoda estando lá..
Escondido, amoitado, calado...
Me fustiga... Não posso guardar comigo
Preciso contar...
Tenho que estravasar
Vai virar livro?... Não sei...
Não ligo o que vai ser
Ao colocar tudo aqui...
Quero sim, únicamente
Por pra fora, tirar daqui
De dentro...Contar tudo
Quase tudo... Pouco escondo
Livro aberto? Não, porcerto...
Mas poucas páginas fecho
Do meu livro... cheio de cores
Amores e doces saudades
Contém também muitas dores                   
Mas bem mais felicidades...
Conto nele o que vi, ouvi, senti...
O que vejo, o que sei,
E o que penso então saber...
Não tenho nenhum receio
Em expor meus sentimentos...
E assim contando...
Escrevo... escrevo... escrevo...






Número 511

CEMITÉRIOS

Tenho amizade com eles...
Afinidades...morei perto
De um deles, fui amiga...
Ele foi meu confessor
Fiz genuflexão no cruzeiro
Ajoelhei na cêra quente
Derretendo, fumegantes
Rezei preces tão ardentes...
Fui constante, indo lá...
Vi choros, tantos suspiros
Escutei tristes gemidos
Dos que iam sepultar
Os seus entes tão queridos
Filhos, irmãos, amigos....
Chorei muito, estando lá....
Não, não sou mórbida...
Mas lá, encontrava alento
Tão mocinha, era eu...
E as almas me ouviam
Caladas, me entendiam....
Contava minhas angústias
Pedia que me ajudassem...
Lá, os choros tinham ecos
Me sentia aliviada,
E nas tristezas choradas,               
Sabia não estar sózinha
Conversava com as almas...
E á noite, em minha cama
No vento, ou na doce brisa,
Divagando, eu sempre ouvia
Clamando, as coroas de lata
E o tilintar das cruzinhas...




Número 512

VIUVÊS

Procuro, busco, não a vejo...
Vivo assim... só por viver...
Quem me dera, disse ele
Na busca, podê-la ver...
Minutos...segundos que fossem
Mas ela... ah... foi embora
Deixando vazio meu colo
Vago, o mesmo solo
Durante anos, pisado
Repisado, calcado
Moldando a vida...
Quem dera, voltasse ela...
Só pra poder contar
Da saudade que me aleja
Tolhe, encolhe, me embota
Desbota meu céu azul...
Tira o riso, traz o pranto
Tirando todo o encanto
Desencantando a vida...
Estou cansado da dor
Saudade do meu amor                                       
Arde o peito, fere a alma
Nada acalma... peço à ela
Vem me buscar, querida...
Continuar nossa lida
Em qualquer desses lugares
Pode ser em noite escura
Ou em noite enluarada
Nos altares das estrelas
Ou nas cores do arco iris
Vou levar as mesmas flores
Que  você plantou aqui
Quero andar a mesma estrada,
Calcar meus pés por aí...
Com você, minha amada...
Vem... me leva daqui...
número 513           

NÓS QUATRO....

Muito bom, nós quatro juntos
Todos num mesmo quarto
Orgia? Não era, eu juro...
Mas foi tão bom, isso tudo...
E foi regado a queijo e vinho
Até choveu um pouquinho
Pra alegrar ainda mais...
A lua também fez sua parte
Aparecendo com arte...
E Baco, o Deus do vinho,
Certamente estava lá
Temendo que não sobrasse
Na taça, nenhum golinho...
Mas com razão, ah... se Baco...
Não sobrou nenhum pouquinho....
E nós, juntos, divagando
Falando de tantas coisas....
Sim, foi muito bom tudo isso...
Zeca, com suas piadas
Luiz, ouvindo quietinho
Nem tanto...ás vezes falava
Ana, dando risadas
E eu? Ah... eu, curtindo tudo
Falando de coisas sérias
E também certas bobagens
Coisas que já nem lembro
Ou nem sei porque falei
Mas... se está no vinho a verdade,
Certamente, o vinho sabe....

Número 514

NÃO SOU SANTA

Santa, eu não sou
Nem tenho tal pretensão
Em mim há muitos defeitos
Minhas falhas? Sim, as vejo...
Mas busco melhorar sempre
A alma e o coração
Sinto alegria ao me ver                   
Na busca por melhorar
Conscientizar um defeito,
E com isso, crescer mais...
Culpas eu não carrego
Já que isso é tempo ido
Mas busco não repetir
Os erros já cometidos...
Muitas vezes meus fantasmas,
Vêm rondar a minha alma
Mando embora bem depressa
Exorciso eles todos
Não permito que me fiquem
Assombrando vida afora       
Sou eu a dona da história
Sou eu, a protagonista
Escolho o melhor papel
Enceno com perfeição
Dou ênfase á mocinha
Não dou trela pro vilão
E ao descer então o pano
A estrêla se despede
Não fica esperando palmas
Porque ela bem o sabe
Que as vaias ou aplausos
Estão mesmo, dentro dela....





Número 515

DESESPÊRO

Chovia...bramia o vento
Tão forte, que amedrontava
Minha alma tão criança...
E eu, correndo na chuva
Nem sentia o vento forte
Fustigando a pele jovem...
Desgrenhada, eu corria
Da morte que assombrava
Minha mãe parindo em dores
O seu filho que chegava...
Não sabia pra onde ir
Por favor...alguém me ajude
Quero o sol... não quero a chuva
Ensopando até os ossos
Castigando o corpo jovem
Da menina apavorada...
Guiada só pelo vento
No relento, madrugada...
Decerto que eu nem sabia,
Correndo, porque corria...
Socorro, pedia a alma
Na voz débil da menina...
A capela estava aberta           
Deserta...os santos todos cobertos
Pano roxo...minha alma...
Encoberta... o mesmo pano...
Desnudei todos os santos
E os chamei pra ver meu pranto
Rolando, num rosto pequeno
Sedento por encontrar
A paz, no rosto dos anjos...






Número 516

ORQUESTRA

Uma orquestra toca ao longe
Remetendo-me ao passado...
Meus ouvidos ouvem perto
Os sons que estão em mim
Ainda...vibrantes....incertos....
Mas tão perto que até doem
Minha alma, assim desperta
Meu presente me deleita,
Minha festa presenteia...
Traz-me distantes segredos
Voltando aos tempos de outrora
Insegura, busco a aurora
E a encontro ainda em mim
Latente em minha senhora,
Que ao se revelar, me acorda
Me alerta pra sonhar,
Viver, sentir, desejar
Da vida, o lado sonoro
Que entranhado ainda está
Em mim... qual embrião,
Em orquestra se formando
Sugando da vida o mel
Adoçando mais ainda
O amor...cerne da vida....
.....................................................



Número 517
NATAL
Montei a minha árvore
Antegozando o Natal
Tantos penduricalhos
Mistureba... detalhes
Sim... O natal é brega
Mas é lindo, divino
Me enleva, relevo
Fico mais leve...
Amorosa, sonora...
Preparo, reparo
Cada detalhe...
Um anjo, um alce
Um sino, um laço
Uma estrela
Um presépio...
Anexo, Papai Noel
Tanta luz
Nascimento de Jesus
No bercinho se destaca
Não é mais tão pobrezinho
Afofo o cestinho lindo
Ilumino... olho... sorrio...
Jesus...Seja bem vindo...
................................................



Número 518
HOMENAGEM A CHICO MENDES

Chico...
Há vinte e cinco anos
Você foi embora daqui
Mas continua em nós
Nas florestas, na fartura
Do seu amor pela vida
Fauna, flora, rios, mares
Choram sua longa ausência...
Você Chico, desbravou, amou
E chorou nos seus altares
Chico Mendes... Grande Chico
Plantador de consciências
Plantou amor...Plantou vidas...
Nas árvores generosas,
Que ainda choram de saudade...
Chico, você é imortal
Imortalizando em nós
A consciência do verde...
Pergunte às tantas árvores
Pergunte à natureza...
Com certeza elas dirão
Que você, querido amigo,
Faz aqui tamanha falta
Pois muitos ainda enriquecem
Empobrecendo as florestas...
Chico... hoje não choro
Faço festa pra você...
Dia 15 de dezembro,
Você nasceu na floresta
E viveu a vida inteira
Pra salvá-la, preservá-la
Da tirania dos homens
Defendeu até à morte
A Deusa mãe, Deusa vida
E por ela,
Em 22 de dezembro
Derramou seu sangue bom
Francisco Alves Mendes Filho
Você acendeu mentes
Plantou tantas sementes
Tornou-se o mártir das matas
Verdadeiro mártir por nós...
Pela vida...
Como é, Chico...
Que alguém teve a coragem
De se tornar seu algoz?