Número 165
BENDITO É O FRUTO
Bendito seja o seu ventre
Guardando o fruto da vida
Sustentando, alimentando
Nove meses de magia...
Bendito ventre que o fruto
Cresce sugando a fonte
Gerando do mesmo sangue
O fruto que gera a vida
Bendito fruto crescendo
Expandindo, se formando
No ventre que aconchega
O fruto do seu amor...
Bendito ser carregando
O fruto no próprio ventre
Mãe....bendito é o fruto
Da sua própria semente
Bendito seja o fruto
E a alma que o sustenta
E bendito seja o útero
Habitat do seu rebento
Bendito fruto do ventre
Eclodindo para a vida
Nascendo, enxergando além
Reconhecendo na alma
O ser do qual ele vem
Bendito fruto é você
Bendito fruto sou eu
Frutos da mesma fonte
Da árvore onde nasceu
Benditos frutos de Deus...
Bendito seja o seu ventre
Guardando o fruto da vida
Sustentando, alimentando
Nove meses de magia...
Bendito ventre que o fruto
Cresce sugando a fonte
Gerando do mesmo sangue
O fruto que gera a vida
Bendito fruto crescendo
Expandindo, se formando
No ventre que aconchega
O fruto do seu amor...
Bendito ser carregando
O fruto no próprio ventre
Mãe....bendito é o fruto
Da sua própria semente
Bendito seja o fruto
E a alma que o sustenta
E bendito seja o útero
Habitat do seu rebento
Bendito fruto do ventre
Eclodindo para a vida
Nascendo, enxergando além
Reconhecendo na alma
O ser do qual ele vem
Bendito fruto é você
Bendito fruto sou eu
Frutos da mesma fonte
Da árvore onde nasceu
Benditos frutos de Deus...
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Número 166
FOOTING
Eram muito, muito bons
Os meus tempos de mocinha
Falo aqui das diversões
Poucas... mas tão curtidas...
Bailinhos... brincadeiras
Dançantes, plenas de vida
Aproveitava bem o tempo
Do pouco tempo que eu tinha
Pra me juntar com amigos
Que saudade, gente minha...
Éramos bem mocinhas
Eu e tantas meninas...
Sábado e Domingo à noite
Antes de ir para o clube
Primordial era o “footing”
Sim... era assim que se chamava
Mas todos diziam “fut”
Acho que quer dizer
Caminhando... será isso?
Mas vá lá, tento explicar
Caminhávamos em grupos
Por um longo passeio
No meio da única praça
Contornando o seu jardim...
Shoppings não existiam
Nem vitrines pra se olhar...
Então nós nos exibíamos
Ante olhares curiosos
Faceiros, libidinosos
Dos rapazes... parados,
Cercando as jovens damas
Nas laterais do passeio
Passávamos rindo... bobas...
Fazíamos caras e bocas
Arrumadas, perfumadas
Manequins tão desejadas...
Ah... me lembro, quanta pose
Pra mostrar os nossos dotes
Belezas jovens, saudáveis
Saudades desses namoros
Ingênuos... olho no olho
Um sorrisinho maroto
Piscadelas convidando
A donzela pra sair
Não as saídas de agora
Mas pra saírem da roda
E em pares passear
Conversar... propor namoro
Num banco do mesmo jardim
Mãos dadas... olhos nos olhos
Naquele tempo era assim...
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Número 167
RECOLHENDO OVOS
Logo pela manhã
Era praxe olhar os ninhos
Das galinhas, patos, gansos
Angolinhas e perus
Que delícia achar os ovos
Pegava, examinando
Alguns ainda quentinhos
Saídos naquela hora
Tinha pena dessas aves
Sentia até arrepios
Buraquinho tão estreito
Expelindo com aperto
Aquele ovo tão duro
Bem maior que o fiofó
Coitadinhas... sem escolha
Mas eu podia escolher
Entre ter filhos ou não
E jurava de pés juntos
Não os ter porque eu cria
Ser assim que eles nasciam
Nós mulheres expelindo
Pelo ânus... ai que dor...
E então muito eu pedia
Senhor Deus, Virgem Maria
Não permitam por favor
Criar em minhas entranhas
Uma criança que for...
Pensava em minha mãe
Tendo filho a cada ano
Tinha dó da coitadinha
E então por várias vezes
Quando um irmão nascia
Questionava como seria
Quando ela se levantasse
Com tudo assim tão aberto
Vão sair as suas tripas
Ah, Senhora bendita...
Que isso não lhe aconteça
E quando então eu a via
Se levantando da cama
Olhava logo pro chão
Pra ver se caira algo
Suspirava... que sufoco...
Êta pensamento louco...
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Número 168
DONA ROSA
Dona Rosa de Goiás
Era senhora tão boa
Entrada nos seus oitenta
Na batalha desde os sete
Me contou muitas
histórias
Doceira de mão cheia
Os fazia pra vender
Me ensinou na sua
prática
A fazer doces em calda
Não tinha o que não
fazia
Compotas de qualquer
fruta
Fazia doce de leite
Mole, duro, puxa-puxa
Tacho enorme, fogo baixo
Num fogão improvisado
Bem no meio do quintal
Mexia com cerimônia
Não fosse quebrar o doce
Colher enorme de pau
Nunca vi tacho tão
grande
Nem tanta fruta assim
Colhia mamão bem verde
Ou até mamão de vez
Pêssegos das fazendas
Todo mundo dava a ela
Cidra, abóbora, laranja
Manga, limão, carambola
Fazendeiros davam o
leite
Dona Rosa se esbaldava
Toda vez que alguém
chegava
Com coisas pra dar a ela
Erguia as mãos em prece
Agradecida chorava...
Eu vi, quase sempre ia
lá
Preparei frutas com ela
Mexi o tacho com a pá
Avivei o fogo baixo
Aprendi tanta lição
Mulher sábia, simples, boa
Nunca vi reclamação
Benzedeira, tinha à mão
Bem rente à porta dos
fundos
Plantas que sempre usava
Arruda, cheirava a casa
Tirava qualquer
quebranto
Quanta gente eu vi lá
Procurando sua bênção
Experimentavam seus
doces
Comiam suas quitandas
É assim que dizem lá
Pão de queijo,
biscoitinhos
E broinhas de fubá
Que saudade, meu
Goiás...
Terra boa, boa gente
Quando posso volto lá
Dona Rosa foi embora
Foi morar com outros
anjos
Virou, na hierarquia
Arcanjo, fazendo doces
Distribuindo, adoçando
A sua grata morada...
Bendita Rosa é você...
Linda rosa perfumada
Eterna em tantas
lembranças
Rosa flor, Rosa
encantada...
(Saudades de você minha linda...)
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NÚMERO 169
SEMENTES DO BEM
Bendito aquele que passa
Semeando as suas graças
Congraçando, elevando
O melhor da sua raça
Bendito aquele que tem
Sementes pra semear
Dos frutos bons que plantou
Pra outros frutos gerar
Bendito seja aquele
Que divide o próprio fruto
Gerando sabedoria
Em qualquer lugar do mundo
Bendito seja o que sabe
Que o saber é o bem maior
E assim, colhendo traz
Ensinamentos de paz...
Bendito aquele que busca
A amizade que o eleva
Bendito é o ser que gera
O amor... Jamais a guerra
Bendito aquele que sonha
Com os grandes ideais
Bendito seja todo aquele
Que respeita seus iguais
Bendito seja o ser
Que forma elos do bem
Bendito o que transforma
E ao transformar vai além
Bendito seja também
Todo aquele que vier
Semear pelos caminhos
As sementes que tiver
Bendito aquele que tem
Semeado a boa ação
Oferecendo também
Sementes do coração...
Bendito, bendito seja
Todo aquele que plantou, alimentou
E que, plantando
Colheu, dividiu, ofereceu
As sementes do amor...
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NÚMERO 170
OS DOIS LADOS
Você já foi tão ferido
Por algo incompreendido
Razões que às vezes nem sabe
Onde está toda a verdade?
Já foi pego de surpresa
Sentiu forte um chacoalhão
Perdeu o rumo da casa
Se sentiu perdendo o chão?
E ao se recompor do susto
Parou um pouco pra olhar
Observar o outro lado
Pra entender o certo, o errado?
Sei que nada justifica
As trombadas, chacoalhadas
Impensadas desse outro
Mas sabemos que é difícil
Enxergar as nossas falhas
Achamos sempre desculpas
Pra aliviar nossas culpas
E não querendo enxergar
Achamos melhor culpar
Pois, mesmo que bem de leve
Nosso ato enfim carregue
Uma certa inocência
Não nos exime, é fato
Daquilo que provocamos
Bom então, é dar um tempo
Pra pensar e ver direito
Achando o momento certo
Pra explicar... agir correto
Evitando desamores,
Rancores e desafetos...
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NÚMERO 171
TRATANDO PORCOS
Minha mãe ficava fula
Pois sempre que me mandava
Tratar porcos , eu dizia
Tá muito sol... que mormaço...
Deixa o sol baixar um pouco...
Coitados... E os porcos esperavam
Baixar o sol e
a preguiça
Quanta liça...
era criança
Mas disso
tenho remorso...
Eu ia mole,
sem pressa
Com a lata das
lavagens
E isso, pra
quem não sabe
Eram restos de
comida
Dormida,
apodrecida
Juntada dos
meus vizinhos
Cheirava
podre, um horror
Eram porcos
que comiam
Credo... quase
vomito
Só de
lembrar me aflijo
Jogava tudo
depressa
No coxo, e
eles vinham
Famintos comer
os restos
Depois tinha
que dar água
Tirada de um
poço fundo
Me imundava
com os respingos
De lavagem que
caiam
E então pegava
a água
Me lavando da
catinga
Tirava um
outro balde
Dava aos
porcos, puxava outro
Pra levar água
pra casa
Me lembro...
não dava a eles
A água
suficiente
Nada
entendia... tinha pressa
De acabar essa
agonia
E então,
quando meu pai
Matou um
capacho gordo
Ao abrir, disse não presta
Tem pipocas pelo
corpo
Minha mãe
falou depressa
Vai ser frito,
ora essa...
Mas eu sei que
disse aquilo
Pois comer era
preciso
Já que
esperava por meses
Obter tanta
fartura
Fecharam então
os olhos
Não se falou
mais nisso
E tudo se
aproveitou
A gordura, a
carne, o couro
Mas eu
sabia... faltou água
Ouvi o
exclamar do vizinho
Faltou água ao
coitadinho...
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NÚMERO 172
SARACURA TRÊS
POTES
Meu pai era
lavrador
Puxava a
enxada com força
O vi tanto
nessa faina
Às vezes o
acompanhava
Em outras,
levava o almoço
E andava, e
andava...
Tropeçava em
meio a terra
Revirada já em
buracos
Pra enterrar
suas sementes
Via ao longe
aquele pai
Capinando...
sol tão quente
E me vendo
então chegar
Parava,
encostava a enxada
Faminto... e a
gente sentava
Embaixo da
única árvore
Que havia em
meio à roça
Conversávamos...
era comum
Meu pai
reclamar do tempo
Do estio
prolongado ou da chuva
Que nunca
vinha a seu tempo
Plantação que
não nascia
Chão duro pra
capinar
E eu triste
então ouvia
Ao longe uma
saracura
Cantando ela
repetia
Parecia
falar... três potes
Repetia...
três potes sem parar
Achava triste
esse cantar
Associava à
falta d,água
Ao feijão que
não nascia
Ao arroz que
não cacheava
O milho... a
espiga secando
Ainda sem nem
granar
E a saracura
cantava
Mau agouro, eu
pensava
Canta, canta
saracura
Peça a Deus
que mande chuva
Ou para esse
cantar
Canta, bela
criatura...
O rio não pode
secar
Seca o pranto,
mas não seque
A água que a
gente bebe
Que faz a
planta nascer
Que faz a
gente cantar
Canta ave
barulhenta...
Faz o seu
canto chegar
Até onde a
nuvem chega
Cante e não
seja agourenta...
Cante pra
chuva molhar...
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Número 173
JUNTANDO OS
CACOS
Juntei pedra
por pedra
Que encontrei
pelo caminho
Fiz com elas
meu castelo
E ele ficou
tão lindo...
Juntei também
os meus cacos
Nada
desperdicei
Aproveitei
qualquer pedaço
Fiz um novo
retrato
Fui montando
devagar
Pincelei as
minhas cores
Comecei em
branco e preto
Mas quando vi,
tinha feito
Meu retrato em
muitas cores
Coloquei nele
a moldura
Tão bonita,
qual pintura
Pendurei bem
junto à porta
Para todos que
chegassem
Perceberem no
retrato
Minhas tantas
alegrias
Construídas
pouco a pouco
Um pouquinho a
cada dia
Juntei
gravetos, folhas secas
Da árvore que
plantei
Acendi então
um fogo
Aqueci com ele
o pouco
Da frieza que
restava
Reavivei minha
alma
Acendi em mim
a chama
Do amor que
tenho dentro
Proclamei em
tom de prece
Espalhei meus
sentimentos
Bradei, cantei
aos quatro ventos
Não quis que
ficassem presos
Guardados só
pra mim
Mas sim, que
se revelassem
E que em se
revelando
Levassem pra
todo mundo
A minha grata
mensagem
De que tudo se
renova
Que o mundo dá
suas voltas
E que a vida é
bela sim...
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NÚMERO 174
BRINCANDO DE
CASINHA
Juntávamos
sempre os três
Zeca, Maria e
eu
Maria, minha
irmã, cinco aninhos
Zeca, nosso
vizinho, sete
E eu, a mais
nova, três...
Brincávamos
sempre juntos
Montávamos
nossa casinha
No quintal da
minha casa
Ou na casa do
Zequinha
Era assim que
era chamado
O menininho
miúdo... calmo...
Muito sério e
muito bom
Meio calado...
Minha irmã também...
Mas eu...
ah... tão tagarela
Inquieta,
teimosa, incerta
Queria mandar
em tudo
Pedia pra ser
a mãe
Porém os dois
estabeleciam
Que seriam os
meus pais
Eu sempre
protestava
E eles
retrucavam...
Mas como? Você
é a mais nova...
E é claro que
eu emburrava
Então eles me
diziam
Se não quiser,
não brinca...
Que fazer...
eu aceitava
Só pra não
ficar de fora
Porque,
brincar de casinha
Era a suprema
glória...
Brincávamos
com o que tínhamos
Latas vazias
de óleo, sardinha,
Latinhas que
aparecessem
Gravetos, ou
qualquer coisa
Tudo virava
brinquedo
Pedras, nossas
comidinhas
E a terra
feito barro
Virava minha
papinha
Fingiam dar
para mim
E eu fingia
comer
E
brincávamos... brincávamos...
Depois, o Zeca
e a Maria
Iam juntos pra
escola
E às vezes me
levavam
Me deixavam em
minha tia
E na volta me
pegavam
Eu também
tinha uma filha
Bonequinha de
retalhos
Tia Antonia me
fazia
Tão boa e
amada tia...
De tantas
coisas me lembro
Desses
tempos... foi tão lindo!
E creio que o
meu vizinho
Que sempre
quis ser meu pai
Gostou muito
de brincar...
Comigo...pois,
até hoje
Convivemos,
nos casamos
Foi meu pai de
brincadeira
Hoje é meu
companheiro
Mas continua
sendo
Além de tão
bom marido
Meu paizão,
melhor amigo...
NÚMERO 175
ÓRFÃOS
Era assim
toda manhã
Na cidade
pequenina
Eu cumpria
um ritual
Gostava ir
todo dia
Buscar pão
na padaria
Ia alegre e
sem pressa
Voltava comendo
pão
Quentinho,
era tão bom...
Mas eis que
certa manhã
Vi movimento
na rua
Frente à
casa do vizinho
Curiosa, fui
pra ver
Ah!... nunca
mais esqueci
Triste quadro
presenciei
Um silêncio...
lembro bem
Nenhum choro
pra quebrar
Entrei... e
em meio à sala
Na mesa
pobre, sem flores
Uma jovem
mulher morta
E sentados,
sonolentos
Seis crianças
velavam
O corpo da
mãe, tão pobre
Tinha dado à
luz de noite
Não aguentou,
pobrezinha
Cada ano um
filho vinha
O sétimo,
alguém cuidava
Mal havia
despertado
Já sem
mãe... pobre coitado...
Os outros...
ah, os outros...
Seis, entre
dois e oito
Dois deles,
o pai levava
Tinha um em
cada braço
Nunca vi
tanto desgosto
Abobado, nem
chorava
Minha mãe
então chegou
Levou-os pra
nossa casa
Fui correndo,
trouxe pão
Ajudei alimentá-los
Pois pediam
pela mãe
Choravam,
queriam colo
Tentei um
certo consolo
Mas eles não
aceitaram
Não me
lembro de mais nada
Só sei que
naquele tempo
Com os
recursos tão parcos
Era muito,
muito comum
As mães morrerem
de parto...
..................................................